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Análise: Jon Rohner, de Alfonso Font

 

Alfonso Font (n.1946) é um dos mais conceituados artistas de BD de origem Catalã, destacando-se em Espanha por obras e séries notórias como Historias Negras (entre os anos 70 e 80 do século XX), Cuentos de un Futuro Imperfecto (1980 – 1984), Clarke y Kubrick, Espacialistas Ltd  (1982) e El prisionero de las Estrellas (1983 – 1987) tendo obtido vários prémios ao longo dos anos devido ao seu trabalho.

Todavia, as histórias de BD de Jon Rohner, Marinero (2008) criadas por Alfonso Font merecem o seu destaque, envolvendo um estilo que já é familiar para quem conhece o autor, que têm um carácter de aventura e cenários exóticos que envolvem sobretudo os mares e as ilhas tropicais da Polinésia, cujo ambiente paradisíaco esconderia perigos e desafios constantes para os marinheiros da segunda metade do século XIX como a personagem principal que dá o título de um álbum de capa dura publicada pela editora Arte de Autor em Portugal.

Jon Rohner

Jon Rohner relembra o famoso Corto Maltese de Hugo Pratt, personagem de BD criada em 1967, a ponto de nos levar a questionar se não haveria uma influência clara do trabalho deste autor em destaque.

Mas o caso é que tanto Hugo Pratt como Alfonso Font foram inspirados pelas histórias de aventuras pelos mares de Robert Louis Stevenson, que escreveu A Ilha do Tesouro (1883) e, de facto, um texto introdutório do álbum da autoria de João Miguel Lameiras, tradutor desta obra, elucida-nos substancialmente sobre a importância de Stevenson, além da sua esposa, Fanny, que optaram por residir numa das ilhas do Mar do Sul e estão presentes nas histórias de Jon Rohner, deliciados por ouvir os seus relatos de aventuras.

Não por acaso, Stevenson ficou conhecido entre os nativos de Upolu, no arquipélago de Samoa, por «Tusi-Tala» ou «Contador de Histórias» e Alfonso Font lhe dedica uma história com esse nome: «O meu Amigo Tusi-Tala» que é a primeira de sete que compõem o álbum com mais de cem páginas.

Jon Rohner

Stevenson, que está presente nas sete histórias da BD, que tomam como ponto de partida as conversas entre Jon Rohner e o célebre escritor, é incontornável. Mas isso não significa que a personagem fictícia de Rohner também não o seja.

Mais do que marinheiro é um herói único, com uma personalidade muito própria e uma força de carácter que pode ser vista como arrojada e incapaz de ceder perante a adversidade, própria de quem está disposto a correr riscos e a enfrentar os mais diversos perigos relacionados com o mar, seja intempéries, territórios inseguros, predadores marinhos ou nativos hostis, incluindo os canibais que numa história são responsáveis por quase dizimarem a tripulação do seu barco.

Além de «O meu Amigo Tusi-Tala» (I) que envolve a história de um salvamento que mais se assemelha a um rapto, podemos contar com outros títulos como «Os Dentes de Tubarão» (II), «O Sangue do Vulcão» (III), «O Diabo no Inferno» (IV), «O Ladrão de Almas» (V), «O Espírito das Trevas» (VI) e «Os Semeadores de Estrelas» (VII)

Jon Rohner

Os desenhos de Alfonso Font mantêm uma vivacidade muito própria, expressivos e dignos de exibir a melhor ação, recheados de detalhes que procuram ser o mais realistas possíveis em matéria de cenários, barcos, vestes, equipamentos e outros elementos da época que visa representar, incluindo os portos, cidades e a própria casa de Stevenson, para não mencionam os litorais deslumbrantes das ilhas e dos mares percorridos pelo aventureiro Jon Rohner.

A coloração enriquece a visão do autor em torno dos cenários essencialmente marítimos, fiel à ideia da existência de locais recheados de cores, cuja luminosidade também procura ser expressiva e transmissora da emotividade das personagens, explorada em tons claramente ponderados e equilibrados.

Este trabalho notório que envolve o álbum publicado em português, além de envolver a com a tradução de João Miguel Lameiras, conta ainda com a colaboração de Mário Freitas, Helena Romão (revisores) e de Mário Freitas, responsável pela legendagem, design e paginação de uma BD distinta e recomendável.

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