Análise jogos: Desynced
Despenhado num planeta distante, o Central Comics pôs mãos à obra e estabeleceu uma linha de montagem para descobrir os mistérios de Desynced.
Sinopse de Desynced
Assume o papel de uma inteligência artificial prestes a ganhar consciência num misterioso planeta distante, após a nave em que seguia se despenhar sem explicação. Recolhe, constrói, pesquisa, explora e programa drones para conseguires consertar a nave e descobrir os segredos que este estranho mundo encerra.
A Stage Games Inc. desenvolveu Desynced, um novo título de ficção científica, estratégia, automação e exploração lançado pela Forklift Interactive a 15 de agosto em acesso antecipado.
Análise de Desynced
Passaram cerca de 7 anos desde que Factorio foi lançado (em acesso antecipado) e revolucionou o género de jogos de fábrica/automação. Desde então, foram muitos os clones e jogos inspirados neste título, uns mais bem-sucedidos que outros. As inspirações de Desynced são claras, mas embora ainda não possamos afirmar o mesmo acerca do seu futuro, as perspetivas são animadoras.
Trata-se de um jogo bonito, bem desenhado, interessante e divertido, com apenas algumas arestas por limar e conteúdo por adicionar, mas desconfio que ainda vamos ouvir falar muito de Desynced em breve.
História de Desynced
Em Desynced, somos uma IA que “acorda” num planeta distante após a nave em que seguia se despenhar sem explicação aparente. De imediato, somos lançados na tarefa de construir uma base e uma linha de montagem que nos permita consertar a nave em que viemos e desvendar os mistérios de um mundo desconhecido, enquanto nos deparamos com alienígenas hostis, ruínas humanas, pragas e outros segredos ilusivos.
Acompanhar a história de Desynced é um pouco como ver um filme biográfico sobre o Martim Moniz — sabemos que, no fim, o homem morre entalado na porta, mas não deixa de ser interessante ver como a coisa aconteceu.
Jogabilidade de Desynced
Ao contrário de alguns dos seus congéneres, a equipa de desenvolvimento de Desynced fez um ótimo trabalho ao equilibrar profundidade e progressão, sendo que não precisamos de recolher 45 tipos de recursos diferentes para produzir 647 000 tipos de coisas distintas. De facto, começo este parágrafo por indicar o que de mais inovador o jogo apresenta — os sistemas modulares. Não existem edifícios nem unidades especificamente pré-definidos em Desynced. Existem poucos “esqueletos” de edifícios e unidades com capacidades distintas, em que temos de integrar dezenas de componentes que vêm em diferentes tamanhos: pequeno, médio, grande e interno. Isto significa que podemos montar os nossos edifícios e unidades como bem entendermos, com possibilidades de personalização imensas.
Ainda em termos de disposição da base, destacaria um dos calcanhares de Aquiles mais comuns neste género — as correias transportadoras. Aqui a decisão assentou, e muito bem, nos drones para tratar de tudo. Em Desynced, não temos (nem o nosso PC) de lidar com o esparguete gigante de correias transportadoras em que amiúde as nossas linhas de produção se transformam e temos de resolver, fazendo-me, por exemplo, desistir precocemente de Dyson Sphere Program, ao fim de apenas 10 horas. Se a Margot Robbie me dissesse que passava uma noite comigo, eu soltava um valente “SIIIIIM!” à Cristiano Ronaldo, mas se ela me dissesse que, para isso, só tinha de assistir a um episódio inteiro de Morangos com Açúcar, eu ia jogar Desynced — há esforços que são impossíveis de justificar.
Antes de passar aos aspetos menos positivos, deixem-me referir um pseudoproblema que já vi mencionado em alguns fóruns como forma de introdução a outra característica excelente do jogo — a microgestão excessiva. É verdade que pode acontecer… caso não soubermos otimizar as nossas linhas de produção e bases. Para isso, o jogo fornece-nos a poderosa arma da programação. É verdade. Em Desynced, podemos criar códigos de raiz para os nossos drones, facilitando-nos incrivelmente o jogo. Não é a primeira vez que vejo esta funcionalidade num jogo. Sem contar com jogos exclusivamente dedicados a programação, a primeira que vi e desfrutei disto foi em Autonauts, mas a uma escala bem mais pequena. Com inúmeras opções ao nosso dispor, podemos automatizar praticamente tudo no jogo, o que promete ser um mimo para qualquer nerd que mereça verdadeiramente esse galardão.
Avançando então para aspetos que menos apreciei, é de referir que, além de alguns menus serem confusos e faltar ainda bastante conteúdo (acesso antecipado), o ritmo do jogo é bastante lento. Se acelerarmos, arriscamo-nos a esgotar os recursos naturais nas proximidades e a entrar num loop repetitivo que acaba por ir dar à mesma lentidão de progressão, apenas numa fase mais avançada.
Gráficos e som de Desynced
Não penso que seja esta a grande aposta de Desynced, mas os gráficos cumprem o propósito e são bonitos, com boas saturações e contrastes, especialmente no período noturno.
Quanto ao som, não posso dizer que tenha detestado por ser agradável e adequado, mas também não fiquei fã por ser demasiado repetitivo.
Postas de pescada e um par de botas
Parece-me que estamos perante um jogo com enorme potencial. Caso a equipa de desenvolvimento de Desynced cumpra aquilo a que se propõem no seu roadmap, este vai ser um jogo com milhões de horas de conteúdo publicado online, em streaming e não só. Entre as novidades anunciadas estão: novas fações, novas funcionalidades multiplayer, aprofundamento da história e novas linhas narrativas, entre outras.
Não tive a oportunidade de experimentar o jogo em multiplayer porque ninguém gosta muito de mim, mas em single player, apostaria em algumas dezenas de horas de conteúdo tal como está, e centenas na versão 1.0 tal como anunciada.
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Jogabilidade, particularmente a possibilidade de personalização e programação.
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Som, tutorial insuficiente, falta de conteúdo e um ou dois pequenos bugs quase irrelevantes.
Classificação: 8/10
Por agora, fico-me pelos 8 devido aos problemas que aponto acima. Contudo, estes são de muito fácil resolução (de resto, já anunciada) e, caso se resolvam, facilmente daria um 9, especialmente se acrescentarem conteúdo.
Desynced encontra-se disponível no Steam a 28,99 €. Mas atenção: apesar de já fazer rombo na carteira, a Forklift Interactive já anunciou que se trata de um preço de acesso antecipado e que planeia aumentá-lo aquando do lançamento da versão 1.0.
Para terminar, fica a dica indispensável: na verdade, até gosto de morangos com açúcar, mas prefiro com natas doces — e só para sobremesa!
Plataforma testada: PC
Gameplay de Desynced:
Trailer de Desynced:
Gamer inveterado que não dispensa uma boa série e nunca diz ‘não’ a uma sessão de cinema… Com pipocas, se faz favor!