BD: Análise – Black Magick (G. Floy)
Greg Rucka é um bom argumentista e já nos brindou com boas obras como o fantástico Lazarus ou a série Stumptown. Agora volta mais uma vez a ter sucesso com este Black Magick.
Aqui temos um thriller policial com magia negra à mistura e a ideia resulta muito bem. A história começa com a detetive Rowan Black, do departamento de polícia de Portsmouth, a ser chamada de urgência para uma situação de reféns num restaurante, onde o sequestrador exige especificamente a sua presença. Rowan recebe esta chamada a meio de um ritual noturno de uma seita de bruxaria à qual pertence, pelo que ficamos a saber que ela é uma bruxa, ou wiccana neste caso específico. Como é óbvio, ninguém no seu trabalho, inclusive o seu parceiro Morgan Chaffey, com quem tem uma boa relação de confiança e amizade, sabe disto.
Ora, após o raptor identificar Black como sendo bruxa e lhe pedir ajuda, ela não consegue evitar a imolação do mesmo quando este se preparava para a matar com fogo.
Dias depois, aparece o corpo de um violador que nunca chegou a ser sentenciado pela justiça, com a mão esquerda cortada. Algumas circunstâncias fazem com que estas duas situações, aparentemente distintas, tenham o nome de Rowan Black envolvido na cena, o que levanta uma investigação por parte dos Assuntos Internos. A detetive Rowan passa então a ter de investigar crimes ao mesmo tempo que se vê em risco de vida. Começam a surgir várias personagens secundárias, com destaque para o secretismo esotérico da personagem principal, que também é ameaçado.
Até aqui, temos todo um argumento policial a ser construído com mestria por parte de Rucka, mas a parte sobrenatural e os apontamentos de terror e suspense são as novidades que trazem a diferença para esta série. Aqui brilham as ilustrações de Nicola Scott que, numa base de sépia e com um desenho hiper-realista, trazem toda a magia para o livro.
O desenho quase fotográfico de Scott é um regalo para os olhos: as expressões dos rostos são incríveis, os cenários detalhados e as perspetivas magistrais. Se existe desenho bonito e virtuoso, esta ilustradora coloca todo o seu talento neste livro e o “degradé” de cinzas no seu preto e branco é maravilhoso. O recurso a usar cores em alguns momentos da banda desenhada em preto e branco não é inovador; já o vimos em variadas obras como, por exemplo, Sin City ou Eu, Mentiroso.
Os autores optaram por utilizar este método quando os apontamentos de magia são utilizados na obra, e assim somos agraciados com momentos deslumbrantes, quer em pequenos pormenores, quer em splash pages de tirar o fôlego. O desenho da autora não é, no entanto, isento de críticas: a meu ver, os seus pontos fracos são faces demasiado parecidas em diferentes pessoas, devido ao traço vincado, e algum desleixo nas grandes panorâmicas a nível da finalização dos corpos humanos quando estes estão mais distantes.
Se em algumas páginas vemos cenários incríveis e pormenorizados, noutras vemos alguns edifícios mal acabados ou veículos menos conseguidos. Esta última crítica acho, no entanto, compreensível, pois percebo que para alguns artistas acabarem a tempo as suas obras e cumprirem prazos contratuais, é um mal necessário. O uso de arte-finalizadores pode, por vezes, desvirtuar a arte autoral e acresce outros custos. De qualquer das formas, fiquei rendido ao talento de Nicola Scott e recomendo vivamente verem o trabalho dela em Wonder Woman Historia: The Amazons, onde o seu desenho, repleto de cores vivas, se torna uma obra-prima.
O ambiente e atmosfera deste policial com mistura de sobrenatural é acutilante, por vezes violento, com cenas de ação bem dinâmicas e um movimento corporal exímio; por vezes sombrio, onde o ênfase é colocado na expressividade dos personagens, mas tudo muito bem construído e conseguido pelos dois autores, que nos deixam empolgados a saber, após onze capítulos, para que rumo nos vai levar mais uma personagem feminina forte e poderosa, que já é apanágio nas criações de Rucka.
Quanto à edição da Gfloy, temos mais de trezentas páginas num papel brilhante com uma capa dura baça e bem bonita, com impressão e encadernação exemplares. Um extra de 28 páginas com capas alternativas, entrevistas aos autores, biografia e esboços fazem desta edição algo exemplar. Algo a declarar, no entanto, em relação à tradução: preciso criticar o facto de haver duas páginas com balões em alemão que obrigam a utilizar um tradutor para perceber a leitura. Acho que é relativamente fácil colocar em português, dando a indicação de que se estão a expressar noutra língua, para não perder o conteúdo e o contexto.
Fico a aguardar a continuação desta série que me conquistou e parabéns à Gfloy por mais uma aposta acertada.
Boas leituras!
Duas páginas em Alemão? Não me lembro de ver isso nos comics originais. Deve ser gralha da editora.
Sinceramente dispensava uma edição tão “pesada” e cara. Os 3 trades originais podiam ter sido replicado na edição portuguesa tornando a série mais acessível para todos os compradores.
A capa escolhia também foi a pior de todas tendo em conta tão boas ilustrações que a artirsta fez ao longo da série.