Análise: Black Adam (SEM SPOILERS)
A Hierárquia do Poder do DCEU está prestes a mudar.
Foi esta a promessa que Dwayne Johnson fez aos fãs em 2020 com o anúncio oficial do muito esperado Black Adam. Decerto há que olhar para trás com este filme, pois Johnson já se anda a preparar para interpretar o personagem desde 2007, mas rebobinemos um pouco mais:
Black Adam estreou-se em 45, antagonista do herói que hoje conhecemos como Shazam, nas páginas de “The Marvel Family” publicada pela Fawcett em Dezembro desse mesmo ano.
Era nesta sua introdução um vil predecessor de Billy Batson que pretendia derrotar o herói e tudo o resto que um vilão pretende. Não era nenhum Sivana, mas não lhe ficava atrás.
Foi muito depois da aquisição da Fawcett por parte da DC (uma horripilante história digna de artigo próprio) que lentamente a personagem ganhou profundidade. Já nos anos 2000 Teth-Adam começaria a ser reimaginado pelos escritores da DC, não só como Anti-herói, mas também como Lider da ficcionalizada nação de Kahndaq.
É de acordo com esta revisão que o personagem surge em Black Adam: Um ancestral guerreiro de poderes divinos que desperta do seu longo sono para combater o intergang, um grupo militar como tecnologia avançada que assola a sua nação em busca de raros recursos naturais. (Uma semelhança um tanto suspeita com a nação de Wakanda, mas continuemos)
Temendo as suas violentas tendências e o seu poder devastador o governo americano convoca a Sociedade da Justiça para o capturar. Liderados por Hawkman(Aldis Hodge), o Doutor Fate(Pierce Brosnan), a Cyclone(Quintessa Swindell) e o novo Atom Smasher(Noah Centineo) partem para impedir o vilão de… salvar o seu próprio país?
Não é um argumento completamente descabido, e tem o seu mérito. Por um lado, Hawkman, muito como o espectador mais versado na história ficcional de Black Adam, teme a sua eventual caída para o mal, que permita que o seu poder, que claramente já lhe subiu a cabeça, se manifeste em mais dor para o povo de Kahndaq. Contudo o povo local vê apenas o medo e a hipocrisia do governo americano que nada fez para os salvar até agora, certos de que esse mesmo governo apenas quer encarcerar o guardião de Kahndaq por não o conseguir controlar.
Claro que isto é tudo muito bonito no papel, mas na tela vemos um filme subdesenvolvido com personagens a mais, e, em certos casos, mal caracterizados (vulgo Fate que aqui sofre inúmeras mudanças do seu personagem nas BDs, entre as quais o grande downgrade às suas habilidades, tornando-se aqui pouco mais que um “Doutor Strange” menos poderoso)
O filme reforça sempre que Black Adam é digno de redenção única e exclusivamente pelas lendas de Kahndaq e a opinião de um miúdo que adora super-heróis, a versão cinematografia de Amon Tomaz, o Osiris do universo DC pré-Novos 52.
Como está escrito, Black Adam não é uma adaptação 100% fiel, por defeito ou feitio o personagem acaba por ser simplificado de forma a ser mais fácil simpatizar com ele.
Fora o violento homicídio de agentes opressores sem cara (ver também: Stormtroopers), o homem não faz mal nenhum a ninguém, logo não deve ser má pessoa. Inclusive, logo ao acordar protege Adrianna (mãe de Amon, versão DCEU da Isis das BDs), como podemos odiá-lo?
Em Black Adam não vemos o extremista dos comics, o impiedoso tirano de Kahndaq, vemos “The Rock” com superpoderes, a fazer nada mais que o espectável.
E isso é mau.
Dwayne é uma superestrela, mas interpreta sempre o mesmo papel: ele próprio. Embora isso não seja mau na maioria dos casos, um meio-homem meio-montanha bondoso e amigável que luta contra os maus e protege os mais fracos, aqui não funciona. O filme brincou com o conceito de aparências iludirem, mas com 15 anos de preparação eu esperava algo mais da parte dele, e não apenas mais do mesmo.
Está ao nível de Aquaman, divertido, com boa acção e algumas falas interessantes, mas longe de ser um suprassumo. Lançado há 20 anos atrás estaria bem acima da média, mas hoje está só bom… algo que sinto que tenho vindo a repetir muito, e agora vos peço que me tolerem um pouco o seguinte deambular:
Nunca escondi o meu amor por estes universos. Por alguma razão escrevo quase exclusivamente sobre BD e Ficção-científica, duas das minhas maiores paixões. Por estas páginas fora fui mandando postas sobre filmes. Alguns foram bem avaliados há meia década atrás e agora não me atrevo a revisitá-los, com outros fui mais severo, mas ganharam um espacinho no meu coração. Para lá de subjetivos, estes textos são um reflexo de mim e dos meus interesses face aos mundos que nos trazem.
Como tal a saturação com “mais do mesmo” é inevitável, e por outro lado o fanatismo também. É quase impossível não traçar semelhanças entre os universos Marvel e DC, ninguém quer saber quem publicou primeiro, mas qual chegou ao público geral primeiro. Hoje Black Adam sofre o que Wakanda Forever vai sofrer com Namor, anseio com grande espectativa a chegada de Hyperion ao MCU pela pura pangaiada que se vai armar nas redes sociais.
Muitas vezes não gosto imenso de como são adaptados, mas continuo a adorar ver estes heróis no cinema, neste caso gostei principalmente de Adam e Fate que sempre foram favoritos meus.
O espetáculo continua a ser um enorme fator para o entretenimento que eu tiro destas longas-metragens, e por mais formulaico que seja, este e tantos outros filmes conseguem satisfazer-me a esse nível.
A narrativa, como mencionado à priori, tem excelentes oportunidades mal aproveitadas.
Adiciono ainda que vi mais um “laser gigante a furar a estratosfera” e pensei que estava a testemunhar o resultado de outra lista de afazeres dum qualquer comité, mas fui desta vez surpreendido pela positiva, o que admitidamente diz mais sobre a minha saturação com o género do que sobre a competência do filme.
Vivemos uma era sem precedentes no mundo do entretenimento. Graças à Marvel os super-heróis saem a dar com o pontapé todos os anos, estejam eles no cinema ou no streaming (ou em ambos ao mesmo tempo passado um par de semanas), mas eu recordo-me de quando os heróis não existiam assim.
Recordo-me de The Dark Knight e Watchmen, projetos que com mais ou menos liberdades adaptavam personagens e histórias. Na altura sem tanta informação ou concorrência, desfrutava e avaliava-os de outra forma. Consoante as proximidades e diferenças, entre projetos e face ao material original, tanto em termos de narrativas como de caracterização das personagens. Lembro-me de traçar os paralelos entre os Batmans escritos por Nolan e Loeb, comparar a composição visual de Snyder e Gibbons.
Tudo isto para dizer que há tanto mais para ver com exatamente a mesma qualidade, que não deveria conseguir avaliar tantos filmes que vão saindo, e essa tarefa torna-se mais difícil quando eu me continuo a mostrar incapaz de me afastar do infantil jubilo de ver os heróis e vilões que mais amo em acção nos cinemas.
Com tudo isto em mente, consigo recomendar Black Adam como aquilo que nunca fingiu não ser: Um filme divertido com boa acção que convida os espectadores a distraírem-se em mais uma visita ao universo DC
6/10
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!