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Análise BD: TINTIN – Numéro Spécial 77 Ans.

Um aniversário muito especial. Leiam aqui a análise da revista de homenagem aos 77 anos da aparição da edição belga da revista Tintin.

Se o leitor tem 84 anos, significa que tinha 7 quando surgiu na Bélgica o primeiro número da revista Tintin. Atendendo ao lema da revista (“A revista dos jovens dos 7 aos 77 anos”) nessa altura já tinha idade para começar a saborear as 12 páginas do primeiro número, publicado em 26 de Setembro de 1946, com uma mistura de curiosidades, textos literários e principalmente BD.

Mas o famoso lema apenas surge na capa da revista em 1950, sendo que curiosamente, o mesmo se pronuncia de forma diferente entre a Bélgica (“De sept à septante-sept ans”) e a França (“De sept à soixante-dix-sept ans”).

Esta era uma revista que se iria tornar um marco na banda desenhada europeia e que em conjunto com a também belga revista Spirou, criou um universo de personagens e estilos que ainda hoje é designado por BD franco-belga. O seu sucesso foi tal que teve também edições na Holanda, no Congo, no Canadá, em França, no Cambodja, na Grécia, no Egipto e claro em Portugal (entre 1968 e 1983)

A publicação em análise é uma homenagem a essa revista que marcou não só uma época como também muitos leitores pelo mundo, e por isso, é uma edição essencialmente dedicada aos saudosistas, com histórias curtas em que vários autores do presente recriam com total liberdade vários dos heróis mais marcantes da revista, o que cria um resultado muito heterogêneo, mas com um nível de qualidade elevada.

Existem algumas boas surpresas, como a presença de Hermman, Cosey ou Derib, que pegam nos seus próprios heróis e aproveitam para fechar algumas pontas soltas que tinham ficado para trás.

 A ideia inicial terá sido que não existissem repetições de personagens, mas numa posterior revisão desta fórmula, há alguns heróis revisitados por mais do que um autor. Em algumas das histórias, vamos encontrar uma visão tão adulta, que me parece mesmo que é dirigida para os que eram jovens leitores da revista original e agora, atendendo á idade, têm todo o tempo do mundo para saborearem esta revista/livro.

Um dos exemplos é a história de Prudence Petitpas, em que aquilo que parece um intrincado crime, é afinal explicado através de situações normais na vivência duma solitária idosa, fazendo uma analogia com o final da revista e este quase eterno revivalismo da mesma. A vida é mesmo assim e tudo tem um princípio, meio e fim. Ao fechar a porta, os personagens da história estão a dizer-nos que esta forma de periódico acabou definitivamente. O mesmo significado encontramos quando Franquin fecha o livro que autografou, depois de imaginar uma visita à casa de Modeste e Pompon.

Alguns heróis ficaram de fora. Por exemplo Martin Milan, que estava previsto com a história “O Vaso das Rosas” por Régis Hautiére e Xavier Fourquemin e também com uma outra história por Benoît Dellac , como se pode ver nas gravuras anexas. Mas a resposta textual de Christian Godard foi que “… as minhas personagens não vão aparecer, por que não fui consultado para a edição de homenagem que estava a ser preparada, e eu não validei essa ideia…”

Quem não é revisitado, é naturalmente Tintin. As Edições Moulinsart não autorizaram que a sua personagem fosse redesenhada (como é norma), nem mesmo para este evento especial. Porém Johan De Moor, filho de Bob de Moor, apresenta uma curiosa e moderna revisitação ao primeiro número da revista, com especial dedicatória ao seu pai. Por sua vez o delirante Lewis Trondheim centra a sua história numa festa cheia de peripécias, em que todos esperam a chegada de Tintin.

Para além das páginas de banda desenhada, temos também quatro artigos sobre a vida da revista original. No primeiro, logo no início da revista, temos um artigo que coloca Hergé como um fora de série, quando atualmente se sabe que tanto Tintin personagem como Tintin revista, devem muito a uma grande equipa. Neste artigo, achei interessante a história do conhecido ator francês François Berléand e dos seus problemas de partilha da revista com o irmão mais velho. Afinal não foi só comigo…

Nos restantes três artigos, encontramos uma história resumida da revista, a ligação das mulheres com o semanário, seja como autoras, seja como personagens e por último uma análise sobre os temas e a arte das histórias publicadas.

Em resumo trata-se de uma edição histórica, mas ao mesmo tempo uma efeméride, uma celebração, uma evocação, e também o agradecimento e a reverência dos novos autores a todos os que os antecederam. 

Livro em capa mole com boa encadernação, com páginas em papel baço de boa qualidade e com boa impressão. O preço é excelente, atendendo a todo o conteúdo e contexto do livro.

Tempo de leitura:

  • Tintin – Numéro Special 77 Ans – Não faço a mais pequena ideia quanto tempo demorei a saborear. Li e reli logo de seguida algumas histórias. Outras, li e segui. Outras ainda, li e mais tarde voltei para reler e descobrir pequenas coisas que me tinham escapado. Mas garantidamente foram várias horas de boa leitura. Bolas, são 400 páginas!

Uma revista/livro que serve fundamentalmente para fechar a coleção com chave de ouro, pois atingiu o limite do seu lema: “A revista para os jovens dos 7 aos 77 anos”. Atenção que a sua leitura pode fazer com que voltem a reler vários volumes da vossa biblioteca…

Para quem não conseguiu um dos 60.000 exemplares publicados, em 3/11/2023 será posta à venda a edição com capa dura. Estejam atentos!

TINTIN – NUMÉRO SPECIAL 77 ANS

Vários autores
Editora:
Éditions Moulinsart / Le Lombard
Livro em capa mole com 400 páginas a cores nas dimensões de 22 x 29 cm
PVP: 29,90 €

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