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Análise BD: Sapiens Vol. 3 – Os Donos da História

Sabem quando vemos uma coisa espetacular e depois quando nos aproximamos e vemos melhor, afinal é algo vulgar? Por vezes há livros assim… Leiam aqui a análise ao terceiro volume de Sapiens – Novela Gráfica – Os Donos da História.

“Comprar gato por lebre”, era uma expressão popular que eu ouvia muito. Como não sou apreciador de caça, não sei reconhecer a diferença, mas já comi um excelente esparguete à bolonhesa, que nos deixou a todos admirados quando soubemos que era feito com soja. Claro que com a cada vez maior utilização da Inteligência Artificial, é preciso cada vez mais atenção para não se “comprar gato por lebre”!

Vem isto a propósito do terceiro volume de uma série de quatro livros, da adaptação para novela gráfica do êxito Sapiens – História Breve da Humanidade, do autor israelita Yuval Noah Harari. Em Portugal, o livro original já vai na 29ª edição, tendo o mesmo sido traduzido para 65 idiomas.

“O importante é nunca parar de questionar”, disse Albert Einstein. E neste livro esta frase tem duplo sentido. O primeiro é a questão do autor. O segundo é a questão do leitor.

É que o autor coloca muitas questões, mas as explicações e respostas nem sempre são convincentes, até para um leigo. E aí entra a questão do leitor. Estarei a ser enganado?

Esta série de livros não é de divulgação científica, mas sim a adaptação de um livro que resulta de uma teoria inicialmente apresentada pelo autor na Universidade de Jerusalém, numa série de palestras sobre a evolução humana. Harari apresenta as suas ideias de forma simples e engraçada, e consegue prender o leitor rapidamente. Mas o raciocínio do autor tem severas inconsistências e alegações muito duvidosas do ponto de vista académico.

Harari é reconhecidamente um excelente contador de histórias e comunicador mas, por exemplo, explicar a revolução agrícola com base na história bíblica de Abel e Caim, levanta muitas questões a muita gente. É que as propostas de interpretação que o autor faz, não tendo qualquer fonte documental que a sustente direta ou literalmente, são apenas isso mesmo, propostas.

O autor mistura de forma subtil, a física, a química, a biologia, a História e ainda outras ciências, para falar sobre a humanidade e a sua evolução, mas com bastante humor e cheio de alusões à cultura pop, à forma como vivemos a vida, e aos tiques da sociedade atual. Utiliza de forma inteligente réplicas de figuras de BD e programas de televisão, para criar empatia com o leitor.

Surge assim uma novela gráfica muito longa, com base num ensaio orientado e pretensamente moralizante, cuja única virtude é despertar a curiosidade do leitor e levá-lo a colocar questões. Aproveita também a feliz adaptação que David Vandermeulen fez para BD, e os desenhos de fácil leitura de Daniel Casanave para mais facilmente atrair leitores.

Porém os conceitos são poucos, as ideias pobres e por vezes temos páginas e páginas de explicações para apresentar uma ideia ou um conceito que já antes nos tinha sido apresentado. No final de cada volume surge sempre um texto informativo, deixando todos os conceitos apresentados em aberto.

Esta adaptação para novela gráfica não é senão uma forma de conquistar mais leitores, que de alguma forma não se sentem tentados a ler um ensaio publicado num grosso volume e que assim procuram uma leitura rápida da obra. Muitos dos leitores que compraram o ensaio e não o leram ou deixaram-no a meio, encontram aqui uma forma mais fácil e ligeira de tomar conhecimento das ideias de Harari, que aproveitou para corrigir e atualizar alguns conceitos.

Mas, ao contrário do que é costume, a adaptação a BD é bem maior do que o livro original. Normalmente nas adaptações para BD os livros sofrem uma redução, mas neste caso o que aconteceu foi uma duplicação.

Na edição portuguesa, o livro original tem 512 páginas, dividido em quatro partes. Cada volume da novela gráfica corresponde a uma das partes do livro e os três volumes publicados somam já 784 páginas de BD, com vinhetas bem preenchidas de texto e ainda estando em falta o volume final, naquilo que parece uma preocupação com a faturação para a sua própria editora, coordenada por Harari e pelo seu marido. O quarto volume será dedicado à Revolução Científica.

Apesar de tudo, a dinâmica de leitura é razoável, conseguindo manter um nível de interesse suficiente para uma leitura contínua, embora algo repetitiva.

Livro em capa dura com boa encadernação, com páginas em papel baço de boa qualidade e com boa impressão. Preço normal para o tipo de livro.

Tempo de leitura:

  • Sapiens – Os Donos da História – aproximadamente 2 horas e 40 minutos

Terceiro volume de uma série que não é divulgação científica nem é ficção. Quem já leu os anteriores vai ler este e o próximo também. Mas, à semelhança dos outros volumes, este livro tem de ser lido como quem passeia por aquelas exposições baratas e cheias de erros sobre factos históricos. Serve para distrair, e talvez desperte a curiosidade para ir investigar a realidade sobre alguns dos temas em questão.

Acabo como comecei, com uma citação de Einstein: “A imaginação é mais importante que o conhecimento, porque o conhecimento é limitado, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro.”

A consumir com moderação!

Sapiens Volume 3 - Os Donos da História

Yuval Noah Harari, David Vandermeulen, Daniel Casanave
Editora: ELSINORE

Livro em capa dura com 280 páginas a cores nas dimensões de 21 x 28 cm
PVP: 29,95 €

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