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Análise BD: Presas Fáceis – Abutres

Os avanços tecnológicos da Internet são uma realidade com que nos deparamos diariamente – para o bem e para o mal… Infelizmente há toda uma zona sombria em que autênticos predadores só esperam a ocasião para atacar. Leiam aqui a análise do livro Presas Fáceis – Abutres.

Sete anos depois, eis um novo volume da saga Presas Fáceis. Mais uma vez, Miguelanxo Prado apresenta-nos um policial que não é uma novela gráfica, mas sim um livro de banda desenhada quase hipnótico.

Esta é uma obra que foi criada a partir de uma notícia que o autor leu no jornal sobre pornografia infantil. Prado ficou chocado com a forma fácil com que se entra nas nossas vidas através das novas tecnologias. Os jovens são as vítimas mais fáceis, como acontece em qualquer selva. Mas muitas vezes são os próprios adultos que estendem a passadeira para os predadores entrarem. E muitas vezes acaba da pior maneira.

Quando entrou em contacto com um amigo comissário, para pedir ajuda no guião, teve de voltar quase ao princípio, pois não podia fazer a história como tinha pensado inicialmente. Escreveu 7 versões do argumento, coisa que nunca lhe tinha acontecido, e acabou por decidir focar-se apenas nos adultos e evitar ao máximo falar nas crianças.

Prado quis voltar à dupla de inspetores que tinha criado no volume anterior, e que não são investigadores de casos simples e vulgares. Achou que se tinha focado quase exclusivamente no caso policial, ficando com o sentimento que as personagens tinham sido pouco desenvolvidas e que podia trabalhar mais o relacionamento da dupla. Para isso, usou um pequeno truque. Ao lerem o livro reparem que a investigação decorre sempre em espaços interiores e as questões pessoais em espaços exteriores, na tentativa de separar as duas vertentes da narrativa do álbum.

Miguelanxo Prado afirma como foi difícil trabalhar nesta história, principalmente nos 2 últimos anos. A ideia inicial surgiu muito antes e, no seu processo de trabalho, Prado não faz um único desenho enquanto não tem a história completamente escrita. O problema é que estava no estúdio das 8 da manhã às 9 da noite, e quando chegava a casa o tom depressivo da história fazia com que não fosse a melhor companhia para a família.

Por esse motivo, Prado diz que não vai voltar a estes personagens, pois foi um trabalho psicologicamente muito desgastante. Porém o autor chama a atenção que esta ficção apenas representa a ponta de um iceberg real gigante, e que ao contrário dele, os inspetores que lidam diariamente com este problema não o fazem apenas durante 3 ou 4 anos, mas durante muito mais tempo.

A construção da história é boa, e apesar de antes de chegar a meio já sabermos quem são os culpados, o autor consegue trabalhar o argumento de forma a manter o interesse até ao final do livro. Num desenvolvimento muito perto do real os inspetores, sem se aperceberem, são encaminhados numa determinada direção, e afinal os leitores também são levados pelo poderoso estilo gráfico de Prado, na direção e ambiente que o autor quer.

A parte policial do argumento faz lembrar os policiais escandinavos. Prado demonstra que domina bem a arte de planificação e montagem, desenvolvida nos audiovisuais, para criar ambientes em vinhetas ou sequências de vinhetas ao longo das páginas. A aplicação direta das cores, os grandes planos, os fundos muito básicos e vazios, criam um ambiente angustiante. Em ambos os volumes, o motivo base do argumento são questões económicas e, mais do que um policial, este livro é uma forte crítica social, neste caso à forma como funciona a justiça, algo que em Portugal é notícia diária nos órgãos de informação.

Se o volume anterior foi a preto e branco, acentuando o tom fúnebre do assunto, este agora é a cores marcando a importância do visual e da beleza no tema central da história.

Prado não tinha título para a história e foi a sua editora francesa a sugerir o título Abutres, numa representação entre o predador e a vítima. Aproveitando a reedição do primeiro volume, desta vez a cores, este tomou o subtítulo Hienas. As histórias são independentes e não é necessário ler o anterior volume, apesar de facilitar a compreensão do relacionamento dos dois protagonistas. Foi também lançada uma edição integral do díptico, a cores.

Este é um livro que se lê de seguida e depois se relê para descobrir e disfrutar dos pormenores.

Livro em capa dura com boa encadernação, detalhes em verniz na capa e lombada em tecido. Páginas em papel baço de boa qualidade e excelente impressão. Talvez por o livro ser maior que o anterior em tamanho, o seu preço também é mais elevado.

Tempo de leitura:

  • Presas Fáceis – Abutres – aproximadamente 60 minutos

Mais uma vez Miguelanxo Prado publica um livro que não deixa ninguém indiferente, seja pelo tema, seja pela história, seja pela sua arte. Uma ficção que é demasiado real.

A Central Comics esteve presente nas apresentações do livro efetuadas na Feira do Livro de Lisboa e no Festival de Banda Desenhada de Beja. Como sempre, é de realçar a disponibilidade do autor para apresentar a sua obra, para conversar com os leitores e para dar os muitos autógrafos solicitados. Em conversa com ele, aproveitei para lhe lançar dois desafios.

O primeiro foi voltar a esta dupla com uma história sobre violência doméstica. Prado concordou que o tema era adequado, mas reafirmou que não vai voltar a pegar nas personagens. O outro foi fazer o livro “Carta do Porto”, já que tinha feito a “Carta de Lisboa”. Miguelanxo riu-se, afirmou gostar imenso do Porto, e que era uma bela cidade. Quem sabe se alguma das ideias se torna realidade?

Miguelanxo Prado
Editora: Ala dos Livros

Livro em capa dura com 88 páginas a cores nas dimensões de 24 x 32 cm
PVP: 28,00 €

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