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Análise BD: Corto Maltese – A Rainha da Babilónia

Corto Maltese, Tintin, Michel Vaillant… O que liga estas personagens é apenas serem heróis de BD franco-belga, ou há algo mais? Leiam aqui a análise do livro A Rainha da Babilónia.

Reflexo do mercado, eis mais uma personagem com uma série do género “Vista por…”. E já podemos chamar série, porque este é o segundo volume da leitura que Vivés e Quenehen fizeram de Corto Maltese. Claro que, como em todos os outros casos, é amada ou odiada por vários leitores.

Mas não deveria ser assim? Afinal não foi o próprio Hergé que retirou as calças à golfe de Tintin, na procura de uma atualização do personagem? Graton não criou uma nova série na procura de novos leitores? Corto Maltese não deve também procurar novas aventuras no mundo actual?

E esta proposta até é bastante interessante. Os autores procuraram manter o ADN do marinheiro do mundo, do cigano do mar, mas dando um salto no tempo. As premissas base não são muito diferentes das histórias de Pratt, com os cenários de guerra, com as mulheres, com o mar, tudo devidamente atualizado por Quenehen. E o traço de Vivés procura ser fluído como a brisa do mar mas duro nos momentos mais intensos.

Porém nenhum dos autores pretende imitar Pratt, apenas querem seguir a sua inspiração numa obra, que assumem totalmente. E por isso este Corto está mais longe de Maltese e mais perto de Jason Bourne. Aqui Corto é mais mercenário e menos pirata. Mas o mundo do Corto Maltese original já não existe mais, e infelizmente o mundo atual é muito mais selvagem e com pouco tempo para romantismo.

Hugo Pratt criou em Corto Maltese uma história de aventuras dirigida para os jovens dos anos 60 do século XX. Quenehen e Vivés procuram criar uma história para os jovens dos anos 20 do século XXI, com temas atuais e com um visual muito cinematográfico, fazendo a ponte com o streaming. Neste livro temos páginas seguidas com vinhetas em sequência que parecem tiradas de uma storyboard de uma qualquer série de TV, sem qualquer texto e cheias de ação.

Mas também temos momentos que podiam muito bem ter sido criados por Pratt, com situações tão comuns nos livros originais de Corto Maltese. Num desses momentos, surge a musa de Corto do volume anterior, para logo desaparecer quatro páginas depois numa tão breve mas significativa aparição. Até um momento esotérico existe neste livro, com Maltese a dialogar com uma estátua. Também as situações reais com que Corto se depara no final do livro levantam-lhe as habituais questões metafísicas, e deixam em aberto o que poderá acontecer num próximo volume.

Vivés ficou conhecido nos anos mais recentes por várias polémicas com os seus livros para adultos e por certos comentários nas redes sociais. Muito falada foi a anulação de uma exposição evocativa do seu trabalho, no Festival de Angoulême de 2023, devido a várias graves ameaças pessoais ao autor e à organização. Vivés é atualmente objeto de uma investigação pelo Ministério Público Francês, pela divulgação de imagens consideradas pornografia infantil em três dos seus álbuns.

No entretanto cinco pessoas que ameaçaram de morte o autor, foram condenadas no passado mês de Junho. Quando toda esta polémica surgiu, as vendas de A Rainha da Babilónia caíram 30% em França, num claro efeito de publicidade negativa. Agora está prevista para 16 de Outubro próximo, o lançamento de um álbum de 192 páginas intitulado “A verdade sobre o caso Vivés”, em que o próprio autor analisa toda a polémica de uma forma satírica.

A dinâmica de leitura do livro em análise, como já foi referido, é muito fluída, conseguindo manter um nível de interesse para uma leitura contínua.

A nível gráfico, o traço a preto e branco é complementado com vários tons de cinzento, num nível de arte muito belo e original. De notar que muitas personagens secundárias chegam a não ter traços fisionómicos, assinalando bem o seu caracter acessório na história.

No final do álbum, à semelhança do volume anterior, temos várias aguarelas e textos com pistas para outras possíveis leituras, em conformidade com a edição de luxo francesa.

Livro em capa dura com boa encadernação, e destaques na capa, com páginas em papel baço de boa qualidade e com boa impressão. Preço um pouco elevado para um livro monocromático

Tempo de leitura:

  • A Rainha da Babilónia – aproximadamente 35 minutos

Eis mais um livro que é para leitores de espirito aberto, com vontade de descobrir novos horizontes, mesmo que estes sejam com velhas personagens. Corto Maltese é uma figura icónica, que todavia não é admirada por todos. Talvez com esta nova versão ganhe mais alguns adeptos.

Corto Maltese - A Rainha da Babilónia

Bastien Vivés e Martin Quenehen
Editora: Arte de Autor

Livro em capa dura com 192 páginas a preto e branco nas dimensões de 19,1 x 28,3 cm
PVP: 27.95 €

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