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Análise BD: AS GUERRAS DE ALBERT EINSTEIN

As GUERRAS DE ALBERT EINSTEIN foram mundiais, interiores, pessoais ou outra coisa?

Nunca vos aconteceu comprar um livro porque gostaram da capa? E afinal o livro até era bom, só que capa é que não tinha muito a ver com o tema?

Na continuação dos princípios da Editora Gradiva, na promoção da ciência e do espírito científico, surgiu no mercado a obra As guerras de Albert Einstein” em dois volumes. Se o título faz algum sentido e dá pistas sobre aquilo que vamos encontrar em ambos os volumes, a personagem principal de três quartos da obra é o químico Fritz Haber e não Einstein como se poderia pensar.

Na verdade Fritz Haber foi um brilhante cientista que ganhou o prémio Nobel da Química em 1918 e a importância dos seus estudos pode ser quantificada se dissermos que metade (isso mesmo, metade!) da população mundial beneficia dos fertilizantes criados com base nos estudos dele. Este é “apenas” um dos motivos pelo qual é considerado um dos mais importantes cientistas de sempre. Porém os seus conhecimentos também viriam as ser utilizados para o desenvolvimento da guerra química durante a Primeira Guerra Mundial, nomeadamente na utilização de gases venenosos.

Algo que o iria marcar para o resto da vida. Na verdade, Haber teve sempre uma vida amargurada. Como a mãe morreu devido a complicações pós parto, o seu pai nunca o aceitou totalmente. Para além disso durante toda a vida, Haber sempre procurou o respeito e reconhecimento dos seus pares e da sua nação, o que na verdade nunca conseguiu. Apesar de deixar o Judaísmo e se ter tornado católico, nunca foi visto como um “verdadeiro alemão”, num país cada vez mais dominado pelo nazismo.

Também o seu casamento com a primeira mulher, acabou com o suicido desta, uma grande pacifista que se sentiu traída pelo uso que o marido deu ao conhecimento científico. Mais tarde, Haber começa a verificar a expansão do Nacional Socialismo e a perseguição movida a todos os seus colegas, amigos e família com raízes judaicas. Assim na sequência da partida de Einstein, Haber também sai do país e começa a procurar outro local para viver e continuar os seus estudos. Acaba por morrer subitamente num hotel na Suiça.

Apesar de um dos autores garantir no prefácio, a total autenticidade dos dois livros, esta obra tem muitas semelhanças com a peça de teatro Einstein’s Gift do autor canadiano Vern Thiessen publicada em 2003. A peça é a dramatização das memórias de Einstein sobre a vida de Haber e apresenta uma amizade dedicada mas complicada entre as duas personagens, principalmente por causa da diferença de princípios morais e científicos entre os dois. A semelhança no tema e na dinâmica desta obra com os livros em análise é muito grande.

No segundo livro, os autores apresentam-nos uma espécie de passagem de testemunho de Fritz Haber para Einstein. Haber acreditava que a guerra química iria resolver rapidamente a guerra a favor da Alemanha, evitando uma guerra longa, desgastante e destrutiva e por isso não hesitou em usar a ciência para um objetivo bélico. O resultado seria devastador e desumano, criando uma terrível aura sobre o cientista. Agora é Einstein que se encontra nessa situação. Apesar de não estar ligado á fabricação da bomba atómica americana, (como podemos ler no livro “A Bomba” também editado pela Gradiva) foram os seus estudos que serviram de base para a mesma, e seriam várias cartas escritas por si, que influenciaram a opinião do presidente americano para autorizar a sua utilização.

Afinal por caminhos diferentes, os dois amigos acabaram por ter o mesmo dilema.

Os livros são de leitura agradável e interessante, apresentando esta relação dialética entre as duas personagens. Einstein é apresentado como um personagem algo “quixotesco”, não sendo muito desenvolvida para além do relacionamento com Fritz Haber. Há também alguns erros. Não foi Haber que convenceu Einstein a voltar para Berlim em 1913, mas sim Max Planck e Walther Nernst. E Einstein aceitou voltar, influenciado pela perspetiva de reencontrar a sua prima Elsa que se viria a tornar na sua segunda mulher, facto que nem sequer é aflorada. Também a sequência final está incorreta, pois a célebre foto de Einstein com a língua de fora, foi tirada à saída de uma festa, dentro de um carro e não à entrada de um comité.

Mas são pormenores e não retiram prazer à leitura. A arte é muito próxima da escola franco-belga e as paletas de cores são bem adequadas ao desenrolar da história.

Livro em capa dura com boa encadernação, com páginas em papel brilhante de boa qualidade e com boa impressão. Preço justo para os livros em causa.

Tempo de leitura:

  • As guerras de Albert Einstein – Volume 1 – aproximadamente 45 minutos
  • As guerras de Albert Einstein – Volume 2 – aproximadamente 35 minutos

Livros interessantes não só pelos temas apresentados, como também pela envolvência e análise da amizade de duas figuras tão antagónicas. Uma boa simbiose entre banda desenhada e conhecimento científico.

As Guerras de Albert Einstein | Vol. 1

AS GUERRAS DE ALBERT EINSTEIN – VOLUME 1

François de Closets, Éric Corbeyran e Éric Chabbert
Editora: Gradiva BD
Livro em capa dura com 72 páginas a cores nas dimensões de 23,30 x 31,30 cm
PVP: 19,50 €

As Guerras de Albert Einstein Vol. 2

AS GUERRAS DE ALBERT EINSTEIN – VOLUME 2

François de Closets, Éric Corbeyran e Éric Chabbert
Editora: Gradiva BD
Livro em capa dura com 64 páginas a cores nas dimensões de 23,30 x 31,30 cm
PVP: 19,50 €

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