Análise BD: Arthus Trivium – Tome 1 (Dargaud)
Arthus Trivium é uma série de banda desenhada inédita em Portugal e publicada originalmente pela Dargaud. Fica aqui a nossa análise, deixando a pergunta no ar “para quando uma edição portuguesa?”
1565, em Salon-de-Craux (que se tornaria Salon-de-Provence), Michel de Nostredame conhecido como Nostradamus vive com sua esposa, Anne Ponsard, e seus seis filhos. Desgastado e debilitado, o peso dos anos e da doença impedem o boticário de desempenhar plenamente o seu papel de médico e conselheiro real de Carlos IX.
Apesar de tudo, ele dá continuidade às suas previsões e agora conta com três discípulos: Angela Obscura, Dante Angulus e Arthus Trivium, para percorrer o país em seu nome e elucidar os mistérios que lhe são apresentados. Mas a sua paz de espírito desaparece quando recebe um pacote com conteúdos enigmáticos – duas estatuetas e um bilhete onde está escrita uma simples palavra: “Em breve”.
Ele então decide contar à sua esposa o que o vem consumindo há mais de trinta anos e seu tempo em Agen. Seus temores, pela sua segurança e pela de sua família, aumentam quando ele percebe que seus protegidos não mostram mais nenhum sinal de vida.
A Análise
Se esta premissa inicial pode não chamar muito a atenção do leitor , então quando virem o desenho de Landa , preparem-se para o magnetismo infalível que ocorre logo com a capa.
No prefácio de Marini, ele conta que tem agora uma concorrência na sua arte de desenhador, e que concorrência meus amigos!
Landa , para mim passa directamente para lenda, tal a beleza dos seus desenhos, uma mistura explosiva de realismo em tons de sépia, mas em que os personagens apresentam umas faces mais “cartunescas” que se a princípio se estranha, logo se entranha.
A escolha de cores, luzes e sombras é de mestre, para um cenário que se quer sombrio e violento, misturando fantasia com o sobrenatural, o histórico e a aventura.
De facto, é muito difícil encontrar críticas a este artista tal é o nível de detalhe nas diferentes vinhetas que nos envolvem no mistério e sedução maquiavélica do argumento .
Se procuram o esoterismo na religião, a dicotomia encanto/terror do século XVI, personagens
atraentes e misteriosas e uns twists diabólicos para acompanhar, esta é a BD que recomendo.
A história está muito bem contada, ou não fosse Raule o argumentista de “Jazz Maynard”, e rapidamente se ganha empatia com as personagens.
Além de Nostradamus, seguimos a aventura com os seus três protegidos que se apresentam como cavaleiros guerreiros, no qual Arthus se destaca por ter o nome da série.
Muito bem executada no seu ritmo, as páginas não param de se virar tal a eloquência dos diálogos e a necessidade de querer ver mistérios resolvidos, sempre bem acompanhados de momentos triunfantes de ação e com um dinamismo excelente. Raule vai tecendo uma teia de grande escala para dar tempo a desenvolver as bases psicológicas dos inimigos de Nostradamus, assim como o background dos personagens principais.
A série conta já com quatro álbuns que fecham um ciclo, mas claramente deixam pano para mangas a serem tricotadas.
Para quem gosta do género ou para quem o quiser experimentar, leitura recomendadíssima.
Uma maravilha.