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Análise: Batman – Asilo Arkham

Batman – Asilo Arkham é uma daquelas obras que não envelhecem e que vale a pena sempre revisitar para uma nova leitura. Aqui fica mais uma análise.

Uma das histórias mais inovadoras de sempre, digno da DC Black Label, responsável por publicar histórias independentes com uma temática mais adulta, explora uma arte sem igual e um teor sombrio que conduz Batman até ao Asilo Arkham, enfrentando os reclusos mais instáveis que tomam conta da instituição e exigem a sua presença em troca da vida dos seus reféns, consolidando-se uma jornada pela insanidade através da exposição das mentes criminosas, revelando com notoriedade segredos e mistérios do próprio asilo alicerçados no mundo marginal e combinado da loucura e do esoterismo abordados com distinção numa obra de BD descrita como arrojada, mais própria de um fenómeno de contracultura, lançada no ano de 1989.

Asilo Arkham

Uma visão peculiar

Batman – Asilo Arkham aprofunda uma visão singular do lado sombrio e irracional de heróis e vilões, forçando-nos a questionar se o herói, pressionado psicologicamente por Joker, não pertence ao próprio hospital psiquiátrico que visa libertar. Vulnerável e em pleno confronto com o próprio trauma gerado pelo assassinato dos seus pais, Batman é forçado a fazer parte de um jogo perverso onde se arrisca a perder-se e a ultrapassar vários limites, tendo de lidar com inimigos como Duas Caras, Máscara Negra, Chapeleiro Louco, Crocodilo, Cara de Barro e Maxie Zeus. Dotada de um profundo simbolismo, a jornada de Batman pelo asilo, de contornos aparentemente oníricos, encerra uma curiosa homenagem à viagem de Alice pelo País das Maravilhas, evocando claramente a loucura das seus personagens, mas também ao mergulho no inconsciente, a fuga à razão e as fórmulas peculiares da relação e perceção da realidade.

Asilo Arkham

Duas histórias que se fundem

Todavia, Batman – Asilo Arkham conta duas histórias em paralelo, que acabam por se correlacionar com sincronicidades próprias do campo do oculto. Acompanhamos não só Batman através de um percurso peculiar, sujeitando-se a ser emboscado por vários vilões num terreno que é do seu domínio, como ainda parte da história essencial e perturbadora de Amadeus Arkham, o fundador do asilo e responsável pela superstição e o conjunto de mito urbanos atribuído ao próprio local, sob o qual alguns creem que pesa uma maldição.

Além do universo de Alice no País das Maravilhas legado por Lewis Carroll (1832 – 1898), a história mantém referencias culturais dignas de nota e não omite os elementos de ligação com Aleister Crowley (1875 – 1947) e Carl Jung (1875 – 1961), reforçando a importância da compreensão dos fenómenos da psique por Amadeus Arkham através de meios não propriamente convencionais, envolvendo-se com conhecimentos mágicos e a prática de um feitiço que só poderia revelar a sua própria loucura, detido no imaginário da necessária prisão e contenção de um arquétipo que é um espírito das trevas e foi responsável pela demência da sua mãe: o Morcego, que será associado a Batman pelo verdadeiro conspirador que lhe tenta montar uma armadilha.

A edição

O álbum de BD de capa dura com cerca de 150 páginas foi publicado pela Levoir em 2020 e continua a ser desejada como uma obra essencial de quem aprecia não só o universo de Batman mas também algo verdadeiramente criativo, alternativo e experimental.

Asilo Arkham

Essas características marcantes e revolucionárias nunca antes feitas em banda desenhada até à data, devem-se ao talentoso escritor e ocultista escocês Grant Morrison (conhecido por numerosos trabalhos dentro da DC Comics, como Animal Man, Doom Patrol, JLA, Seven Soldiers, All-Star Superman, Final Crisis, Batman Incorporated, etc) e à sua colaboração com o ilustrador Dave McKean, reconhecido por um elevado número de trabalhos que não só incluem capas e o design de CD e livros que foram autênticos best-sellers como de BD’s icónicas, nomeadamente todas as capas da série Sandman escrita por Neil Gaiman.

O visual inovador das pranchas revela a criatividade da dupla que concebeu a combinação da pintura, fotografia e escultura para orientar uma técnica de orientação livre e de tal modo impactante que se confundem com algumas das melhores expressões das artes visuais aliadas à BD. Na presente versão portuguesa, o álbum conta com a tradução de João Miguel Lameiras, a legendagem de Rui Alves, o trabalhos dos manuscritos de Teresa Martins e a intervenção na capa do atelier Silva Designers.

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