Cinema: Crítica – The Batman (sem spoiler)
O Cavaleiro das Trevas regressa ao cinema!
Gotham não muda, já há 2 anos que Bruce Wayne(Robert Pattinson) assombra as noites citadinas à caça de criminosos, mas a violência continua a inundar a sua cidade. Eis que surge outro ícone, um enigmático assassino que ataca a elite corrupta e promete mudança. Cabe ao nosso herói e aos seus aliados travar Riddler(Paul Dano) antes que concretize os seus misteriosos planos para a cidade.
É complicado, num mundo que tenta homogeneizar o cinema, gostar de super-heróis. Querer o espetáculo, as mensagens, a profundidade aos quais certos livros nos habituaram.
O Batman sem dúvida é o que mais sofre pela qualidade que oferece. Enquanto nos livros costumamos ler a tragédia de um homem que tenta ser mais que tudo o que pode em prol dos outros, nos filmes já tivemos malta a dormir de pernas para o ar e cartões de crédito no cinto de utensílios. Mas há que perceber uma coisa, algo que já se vê aos anos, não existem personagens constantes. Quer queiramos ou não, na sua humanidade qualquer personagem acaba por refletir sempre as sensibilidades dos autores, e aqui isso não muda.
No entanto é o mais fiel.
O Batman de Reeves e Pattinson é uma modernização da tragédia clássica, do herói saturado que luta por vingança, por justiça, por garantir que nenhuma criança perde os país para a violência de homens malvados. Claro que na modernização há aspetos que mudam, este Bruce é um tanto mais infantil, socialmente inadequado, mesmo a meio dos seus vintes, nota-se a falta de rumo, de norte, Bruce Wayne afogou-se na sua missão e, por conseguinte, na sua cabeça. É uma performance soberba pela parte de Pattinson e, com a promessa de sequelas, procuro ver o crescimento de Bruce, bem como o desenvolvimento da sua faceta pública.
Riddler é, na minha opinião, um excelente vilão, mas não necessariamente o que o filme pretendia.
Aqui foi feito dele um assassino em série como John Doe de Se7en(uma inspiração óbvia para Reeves que recria muito do clássico de 95), um homicida metódico com um plano malévolo e claros distúrbios. Enquanto que o Riddler na grande parte das suas encarnações é um homem vaidoso, aqui vemos algo mais sombrio, diria mais próximo do reinventado Calendar Man. Não pretendo com isto desvalorizar o trabalho de Paul Dano, antes pelo contrário, ele interpreta a sanidade, a loucura e o génio entre ambas com brio e distinção. O problema é um argumento que tenta misturar cheiros de Zero Year com o Se7en mencionado à priori e obriga-se a reinventar um personagem celebrado e que, até à data, nunca foi fielmente adaptado ao cinema.
Por fim elogio Kravitz, Serkis e Wright pelas suas estupendas performances e excelente contraposição com o protagonista, não esquecendo o irreconhecível Collin Farrell e John Turturro pelos seus papeis na criação de um elemento criminoso poderoso e prevalente na Gotham de Reeves.
E eis que abstraindo-me da BD, interpretando o filme como mito moderno, careceram-me palavras para o que senti.
Matt Reeves regeu experientemente uma equipa de génios e virtuosos na criação de uma das melhores experiências cinemáticas que tive o prazer de testemunhar.
A fotografia, a música, os atores, o argumento, os cenários, o guarda-roupa e maquilhagem, as coreografias e efeitos especiais, tudo milimétrico, preciso e, no entanto, tão criativo e inovador.
Sobram alguns momentos de pausa, nos quais questionamos o filme, momentos que servem, no entanto, para mostrar que esta história ainda está muito verde, a lenda deste Batman e dos seus parceiros e vilões ainda agora começou.
Seja a integração de tecnologia realista, os acenos ao público, ou as promessas de mais para vir, sintomáticos do cinema de super-heróis moderno, tudo é utilizado para relembrar ou assegurar o público que esta ainda é uma das primeiras aventuras e que vamos ver muitas mais.
Infelizmente alguns destes momentos quebram a tensão, podem levar até à chacota num filme que, fora deles, é espetacular, uma obra-prima arriscaria dizer.
Os fãs do Batman, de cinema, estão bem servidos, embora o filme não venha recomendado aos mais novos ou àqueles que só querem explosões e pancadaria.
Chegou o maior Batman do Cinema.
9/10
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!