Cinema: Crítica – Nightmare Alley – Beco das Almas (2022)
Guillermo Del Toro é um dos cineastas mais respeitados das últimas décadas, com uma carreira invejável de quase 30 anos, mas com uma recepção variável dos seus últimos filmes.
Ora vejamos, Crimson Peak: A Colina Vermelha, de 2015, teve diversos problemas na narrativa, apesar dos seus visuais interessantes; em 2017, A Forma da Água ganhou quatro Óscares, entre eles Melhor Realizador e Melhor Filme, e mais de uma centena de outros prémios.
Tudo aparentava estar em bom rumo para o seu novo filme, Nightmare Alley – Beco das Almas Perdidas (O Beco do Pesadelo, no Brasil) ser marcante, tendo em conta que é a primeira vez que vemos Del Toro a fazer a sua versão de um filme noir.
Baseada na obra de William Lindsay Gresham, conhecemos Stanton Carlisle (Bradley Cooper), um homem em fuga que acaba numa feira itinerante, conhecendo diversas das suas personagens que também são algumas das suas grandes atações. A sua relação com eles oferece-lhe oportunidades únicas para aprender os grandes truques, dos quais decide levar na sua vida como um falso mentalista. Ao lado de Molly (Rooney Mara), Stanton planeia enganar um magnata perigoso, com a ajuda de uma psiquiatra fatal, na forma de Lilith Ritter (Cate Blanchett)
Durante duas horas e meia, somos levados para os anos ’40, em plena Segunda Guerra Mundial, onde aqueles que ficaram e não foram combater necessitam de algum tipo de entretenimento. Quanto mais intrigante, melhor e um Carnaval do género certamente entreteu muitos locais, desde “O Homem Mais Forte do Mundo”, à “Mulher Electricidade”, sem nunca esquecer o híbrido homem/animal que tantos curiosos visitavam por uma boa moeda. Mas o segredo que Stanton guarda é um que acaba por deixar que o poder de “ler mentes” e ser convincente lhe subiu à cabeça, pensando ele ser algum tipo de Deus.
Del Toro realiza assim um filme que toma o seu tempo a dar-nos uma história propriamente dita, deixado à deriva pela existência das suas personagens e mostrar um pouco da vida de um homem em busca do sucesso, seja qual esse for. Quando este revela os seus verdadeiros motivos, já passamos praticamente metade do filme com muito esforço e algo cansados, focados na excelente produção dos cenários, estes com muitos detalhes que valem a pena serem vistos.
A verdade é que Del Toro parece ele próprio incapaz de capturar novamente o sentido de mistério e ousadia que tinha nos primeiros anos da sua carreira, com filmes como Cronos e O Labirinto do Fauno a serem considerados clássicos de culto e excelentes exemplos de um realizador com uma paixão genuína por tudo o que é menos convencional em Hollywood. Admira-se a tentativa de alguma forma continuar o que poderia ser a sua vontade de explorar as obras alternativas das leituras norte-americanas, frequentemente encontradas nas chamadas revistas pulp, algo que funcionou bem com A Forma da Água, mas que desta vez resultou em algo principalmente enfadonho.
Incapaz de capturar qualquer tipo de atenção que valha a pena, Nightmare Alley – Beco das Almas Perdidas apenas ganha ao ter uma nova versão cinematográfica de uma obra literária menos conhecida, e pouco mais, merecedor de ser algo verdadeiramente único e mais entusiasmante.
Nota Final: 4/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.