Cinema: Crítica “Resident Evil: Raccoon City”
Resident Evil: Raccoon City (Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City, no Brasil) chega às salas de cinema com demasiadas promessas para os fãs da franquia, esquecendo-se do público em geral.
Falar de Resident Evil e cinema é algo completamente natural por esta altura. A franquia da Capcom já não é uma desconhecida do cinema, tendo tido vários lançamentos entre 2002 e 2016 protagonizados por Mila Jovovich que, mesmo sendo na sua maioria maus filmes, tornaram-se bastante divertidos ao longo dos tempos, especialmente se tivermos em conta que em algumas das entradas chegavam quase ao ridículo de poder ser classificado como um “Velocidade Furiosa dos Zombies”, pelas situações e enredos que a história contava, afastando-se dos jogos logo de início. Por outro lado, Resident Evil: Raccoon City, tenta fazer o oposto mas obtém resultados similares, mesmo que de forma diferente.
Nesta nova entrada, que acaba por funcionar como um reboot da série de filmes, mas que, por alguma razão macabra continua com Paul W.S. Anderson ( o homem nunca mais desaparece da franquia é impressionante!), desta vez como produtor executivo, conta uma mescla de histórias. Sim, porque o que temos aqui é uma espécie de colagem e montagem de situações referentes ao primeiro e segundo jogo da franquia. Jogos maravilhos, tenho que admitir, mas, quando os tentamos colocar num filme, com as situações a decorrer ao mesmo tempo e tentamos “agrafar” aqui e ali, é uma confusão tremenda. Personagens que não se conhecem até mais tarde na franquia a conhecer-se do nada, re-encontros esperados durante entradas a acontecerem como nada fosse e a surgir como uma das histórias principais da trama, além de um esquecimento propositado de algumas personagens que ajudaram a construir esta série. O mais interessante é que conseguiram ir buscar uma personagem que aparece num par de jogos para a inserir na trama como, talvez, uma das melhores personagens no meio desta confusão pegada.
Sim, porque se já tinhamos uma história que parecia uma colagem feita por um miudo de infantário que, por alguma razão, adora Resident Evil e decidiu colocar os melhores momentos dos dois primeiros jogos da franquia (com um piscadela de olho a outros jogos, tendo um deles sido a Resident Evil: Code Veronica, que me deixou bastante contente por ter o meu jogo favorito da franquia ali representado por uns segundos), as escolhas do elenco também não foram as melhores. Mesmo que as personagens de Robbie Amell (Chris Redfield) e Kaya Scodelario (Claire Redfield) não sejam as melhores, atiro principalmente as “culpas” a Hannah John-Kamen e Avan Jogia. Nunca na minha vida diria que eles eram personagens tão míticas como Jill Valentine e Leon S. Kennedy, respectivamente. Aproveito agora, também para falar de algo que me incomodou demasaido: o facto de metade do vocabulário disponível para Leon serem palavrões e palavras menos bonitas. Se existem cinco linhas de fala em todo o filme em que ele não proferiu algo do género, acho que estou a ser simpático. Fica irritante ver uma personagem proferir tantas baboseiras no espaço de uma hora e quarenta.
No entanto, existem algumas coisas boas neste filme, mesmo que sejam poucas. Uma delas é o Wesker, que, para os mais familiarizados com a franquia, sabem o que significa. Não poderia escolher melhor actor para o interpretar do que Tom Hopper, que tem mesmo o ar de pessoa em que podemos confiar mas que, a qualquer altura, vamos acabar por ser traídos por ele. Gostei também do facto de este Wesker conseguir ter um pouco de compaixão, ao contrarário da sua contraparte nos videojogos. Outra coisa boa é, definitivamente, Lisa Trevor (Marina Mazepa). Como é que uma personagem que, tal como já referi, aparece num par de jogos consegue ser tão bem interpretada e convencer o espectador que é a personagem mais adorável ali no meio. Por fim, resta falar dos easter eggs. O filme está cheio deles e os fãs da franquia vão apanhar todos, além de que também irão reconhecer os inimigos (além dos tradicionais zombies) e ficarão deleitados com eles, mesmo existindo uma ausência gigantesca. O Licker é talvez o melhor inimigo, mas, com tanto pouco tempo de ecrã, nem deu tempo para o aproveitar bem.
Resta concluir que, Resident Evil: Raccoon City é um filme especialmente feito para os fãs, ignorando por completo o espectador tradicional que não conhece as personagens aqui retratadas. No entanto, mesmo com todos os mimos que apresentam para aqueles que seguem a série à mais tempo, acabará por se tornar o filme fraco, sem pés nem cabeça e apenas algumas situações irão fazer o espectador levantar-se da cadeira. Quanto ao espectador casual, mesmo sendo um daqueles filmes em que pode “desligar o cérebro” e ver acção dismiolada, vai sair desagradado com o filme.
Nota Final: 2/10
Resident Evil: Raccoon City estreia a 9 de Dezembro nas salas portuguesas
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.