Análise: Cidade Invisível (Netflix)
A mais recente aposta da Netflix do mercado brasileiro estreou em fevereiro e parece ter passado um pouco despercebida.
“Cidade Invisível”, criada por Carlos Saldanha, conta-nos a história de Eric Alves (Marco Pigossi), um detetive da Polícia Ambiental que após perder a mulher para um incêndio florestal durante uma festa junina tenta ultrapassar o desgosto juntamente com a sua filha Luna.
Ao voltar ao trabalho decide investigar as circunstâncias por detrás da morte da esposa e depara-se com uma empresa de construção que tem planos para adquirir os terrenos florestais. E é a partir daqui que a narrativa muda de dimensão. Enquanto Eric procura respostas para a morte da sua mulher e as verdadeiras intenções da construtora, encontra um boto-cor-de-rosa, uma espécie ameaçada de golfinho fluvial da América do Sul, que dá à costa numa praia brasileira.
Seguindo o seu dever como Polícia Ambiental, Eric decide colocá-lo na sua carrinha para ser autopsiado a fim de descobrir de que morreu, mas acaba por falhar a entrega no centro de colheita e trá-lo consigo para casa. Mais tarde nessa noite descobre que no lugar do boto está o corpo de um homem com os olhos completamente brancos.
Este evento despoleta toda a ação da história e começamos a ver as histórias do folclore brasileiro a ganhar vida e a entrelaçarem-se com a presente narrativa, ficando a cargo de Eric tentar perceber o que está a acontecer e o que tem tudo a ver com a morte da sua esposa.
Ao longo da história são apresentadas várias personagens do folclore brasileiro como o Saci-Pererê, Iara, Tutu Marambá, Curupira e a Cuca, que neste mundo vivem entre as restantes pessoas comuns, enquanto tentam manter estes dois mundos separados.
Para aqueles que cresceram a ler BDs como a “Turma da Mônica” ou a ver séries como o “Sítio do Picapau Amarelo” vão achar piada a tentar descobrir quem são estas personagens mitológicas. E para aqueles que viam, ou ainda veem, novelas brasileiras vão rapidamente apreciar esta versão em formato de série, com uma qualidade extra que resulta do formato e da colaboração com a Netflix.
Esta é uma série que retrata o fantástico, cheia de mistério e com um enredo que se vai adensando ao longo dos episódios com alguns twists interessantes. As interpretações feitas pelos atores são na sua maioria boas, mas por vezes deixam um pouco a desejar, e a narrativa em certas alturas é algo lenta e monótona o que pode levar a alguém que não esteja tão envolvido a desinteressar-se.
“Cidade Invisível” é um projeto importante, ao promover o folclore brasileiro, em muito influenciado e com origens no nosso próprio folclore português, infelizmente já muito esquecido. É assim de louvar a posição dos nossos irmãos do outro lado do Atlântico que continuam a manter viva a sua história e cultura.
Os sete episódios de cerca de quarenta minutos cada um, comparando com outros originais da Netflix, são uma boa quantidade de conteúdo que dificilmente será consumido tão rápido como outras séries. O fim em aberto pressupunha uma continuação, algo que foi recentemente confirmado, com a data de estreia da segunda temporada ainda por anunciar, mas demonstrando o potencial da série.
Na minha opinião recebe um 6 em 10, ficando a aguardar a próxima temporada.
Desde criança que nutre um carinho pelo audiovisual, ao ficar a ver as séries e filmes estrangeiros com os adultos, mesmo depois das horas de deitar. Mais tarde, como jovem, descobriu um gosto especial pela cultura japonesa, indo de anime a Nintendo.