Cinema: Análise – Super-Inteligência (2020)
Depois de nos últimos dois anos nos ter presenteado com Can You Ever Forgive Me e The Kitchen, Melissa McCarthy oferece-nos Super-Inteligência, uma comédia realizada pelo seu marido, Ben Falcone, com o argumento de Steve Mallory.
Com um início que nos promete uma mistura de ficção-científica com comédia ligeira, podemos até ficar curiosos com o que possa vir a acontecer. Carol Peters é a “pessoa mais mediana do planeta” que divide o seu tempo a ajudar causas humanitárias que, para além da entrega de animais para adopção, nunca chegamos a perceber quais são. É por esta razão que uma super-inteligência (IA) a escolhe para desenvolver um teste à raça humana: Carol tem três dias para provar que a humanidade merece ser salva. Caso falhe, esta IA vai decidir entre escravizar ou destruir a população.
Infelizmente, também é desde início que ficamos a perceber que Super-Inteligência não vai ao encontro do nível de comicidade que os filmes de Melissa McCarthy nos têm habituado. Talvez por não se adequar ao filme e à sua personagem principal, o estilo não é o mesmo. No entanto, tal não é indicador de nada. Afinal, não queremos cópias sucessivas em papel vegetal. Sem atribuir responsabilidades à interpretação de McCarthy e do restante elenco, acaba mesmo por ser a qualidade dos momentos de humor que se tornam pouco naturais, forçados e por vezes demasiado insistentes.
É só passado algum tempo, depois de a Microsoft ter sido informada (bastante conveniente Carol ter um amigo que lá trabalha) e depois deste ataque cibernético se ter tornado um assunto de Estado, que Super-Inteligência revela o seu segredo: afinal é uma comédia romântica embrulhada em ficção científica. São as matérias do amor que vão provar que a humanidade merece ou não ser salva. Por incrível que pareça, não é a forma como Carol reage às peripécias da IA ou o seu estilo de vida que vão contribuir para este estudo sobre o ser humano. De repente vemo-nos no meio do reencontro forçado com George, o ex-namorado com quem Carol gostaria de resolver as coisas caso o mundo acabasse. Como que para melhorar um pouco, é aqui que entra um Bobby Cannavale discreto e carismático que vem complementar uma Melissa McCarthy agora naturalmente engraçada.
Resumidamente, Super-Inteligência incide substancialmente no romance de Carol e George. Muito pontualmente somos relembrados que ao mesmo tempo o Governo do Estados Unidos reúne esforços com o resto do mundo para impedir um desfecho infeliz. É um filme dividido em duas histórias que por via da amizade conveniente são peças do mesmo puzzle. Não se negam uns pequenos risos aqui e ali para quem simpatiza com o tom espirituoso e gozão da voz que James Corden empresta a esta superinteligência não tão inteligente quanto aparenta. De resto, trata-se de um filme que falha na construção do enredo e na fusão dos géneros que propõe.
Classificação: 3,5/10
O amor pela comida é uma constante. O gosto pelo chá de cidreira é variável. Os musicais são uma adi(c)ção crescente. A paixão pelo cinema multiplica-se. Teresa é muito dividida.