Capitão Fausto em Sol Posto (filme-concerto)
À terceira é de vez. Depois de reagendarem por duas vezes devido às restrições impostas pela pandemia, hoje (dia 20) chega finalmente Sol Posto, um filme-concerto do grupo português Capitão Fausto.
Apresentado no 5º Encontros do Cinema Português, este é um projecto que visa mostrar a capacidade de actuação do sector artístico perante esta adversidade. Como Tomás Wallenstein (guitarrista do grupo) lembrou nesse dia, os músicos não pararam, tiveram apenas de pensar em novas formas de chegar ao público face à falta de espaços para dar espectáculos. Surgiu, então, esta ideia e em cerca de 70 salas portuguesas pelas 20h de hoje, Capitão Fausto vão fazer-se ouvir.
Realizado por Ricardo Oliveira, com quem o grupo já tinha trabalhado em Pontas Soltas, Sol Posto não é o típico filme-concerto gravado em ambiente ao vivo com holofotes e plateia. Aqui o público terá a oportunidade de ver Tomás Wallenstein, Domingos Coimbra, Manuel Palha, Salvador Seabra e Francisco Ferreira dar vida às músicas dos Capitão Fausto num ambiente um algo diferente.
Gravado em Melides durante uma semana de Setembro deste ano, Sol Posto apresenta um concerto divido em três momentos: crepúsculo, noite e alvorada, que têm como cenário um armazém abandonado, uma clareira iluminada por máquinas de construção e o meio da floresta.
Na ausência da confusão de um espaço habitual de concerto e com um foco dirigido ao grupo, podemos ver como um elemento à partida estranho se vai envolvendo com espaço à medida que o tempo passa. Num contexto actual em que nos vemos obrigados a entrar num estado de quase inércia, vemo-nos impelidos a aproveitar este para parar, ver e disfrutar. A sinopse diz-nos “Tal como na vida quotidiana recente, o filme enfrenta a ideia de um período de ponderação em vez de ação, e de suspensão em vez de concretização”. E de facto é aqui que reside a beleza deste concerto. Não só somos transportados para outro espaço físico como se torna inegável que a câmara nos aproxima da banda, da sua postura, da sua ligação enquanto grupo e da forma como dão vida à sua música que acaba por se envolver com os sons da natureza. Só no final, quando percebemos que não queremos que o concerto acabe é que damos conta que estivemos sentados numa sala de cinema o tempo todo.
Dirigido a todos, este é um filme concerto que faz bom uso da aliança entre o sonoro e o visual. Os menos atentos ao percurso dos Capitão Fausto poderão aproveitar a fotografia e os curtos apontamentos que se apresentam como uma espécie de intermezzos enquanto se deixam levar pela sonoridade do grupo; os fãs, terão tudo isto e a oportunidade de se deliciarem com as novas versões das músicas já conhecidas.
Sol Posto só chega hoje à noite, mas os curiosos já podem ouvir no Youtube e no Spotify as versões inéditas de “Gazela” e “Mil e Quinze” (aqui intitulada “Mil e Vinte”) ou ir até ao canal da banda para assistir aos vídeos gravados durante a rodagem do filme.
Já dizem eles “Eu vou morrer, eu vou morrer, mas antes vou aproveitar bem”. Sem mais datas previstas, esta é uma oportunidade única. Com todo o cuidado e em segurança, aproveitem para assistir a este concerto dos Capitão Fausto.
O amor pela comida é uma constante. O gosto pelo chá de cidreira é variável. Os musicais são uma adi(c)ção crescente. A paixão pelo cinema multiplica-se. Teresa é muito dividida.