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Crítica – Gambito de Dama (Netflix)

Estreado a 23 de outubro, Gambito de Dama é uma das grandes estreias do mês. Uma mini-série protagonizada por Anya Taylor-Joy que nos inspira com a dramática história da aspirante jogadora de xadrez a tornar-se na melhor do mundo.

Aos oitos anos, Beth descobre a sua vocação ao jogar pela primeira vez xadrez com o zelador do orfanato onde foi colocada após a morte da sua mãe. Ao surpreender constantemente os jogadores à sua volta, a jovem ambiciona tornar-se na melhor do mundo, uma carreira pela qual terá de lutar para obter tendo em conta a época o  meio que a rodeia.

O seu talento para o xadrez é notável, pois apesar de só jogar aos domingos com o zelador, Beth guarda a sua dose diária dos calmantes que as raparigas são forçadas a tomar para as suas noites de reflexão acerca de xadrez. Estamos perante cenas bizarras em que a jovem aparenta ter poderes, mas não, simplesmente tem uma inteligência acima do habitual que a permite praticar de modos bizarros e a impulsiona a estudar qualquer tipo de matéria de modo a atingir o seu grande objetivo.

Deste modo, esta mini-série contém uma narrativa profunda que brinca com a previsibilidade da mesma, como por exemplo, Beth chega a um orfanato e certamente será mal tratada tal como acontece em dezenas de histórias do género com prodígios. Contudo, tal não acontece, a sua vida dentro deste local de facto não é de luxo, mas a narrativa consegue ser inovadora e ter reviravoltas com o devido desenvolvimento e sem recorrer ao fator surpresa.

 

Além disto, passado dos anos 60 aos 70, permite uma estética memorável, desde o vestuário, à decoração e às cores pouco saturadas que realçam a fase sombria da guerra fria, a infeliz história desta protagonista e a desigualdade económica, de genéros, raças e etnias, Gambito de Dama apresenta-nos reflexões constantes acerca de consumo de bebida e drogas, parentalidade, amor e amizade, mas que nunca se desviam do ponto principal, o amor da jovem pelo xadrez. Ponto este em que qualquer espetador consegue rever-se com a sua própria paixão. Tal como é dito na própria mini-série, cada pessoa vê nas suas paixões significados que outras não vêm e o mesmo acontece com Beth e o mundo à sua volta.

Logo, o cuidado que a mini-série tem em mostrar a dedicação de Beth em estudar cada estratégia conhecida no xadrez é surpreendente, sendo o próprio nome da mini-série uma famosa jogada e tantas outras que são mencionadas ao longo dos episódios e irão deslumbrar os fanáticos deste desporto, bem como não seguidores do mesmo, sendo facilmente acessível a qualquer espetador através das personagens à sua volta, como a sua adorável mãe adotiva, a sua primeira agente oficial, a quem Beth adora explicar as suas jogadas.

Deste modo, a protagonista executa um estudo mental tão constante que a dificulta em ter uma vida social mais agitada, restando-nos mencionar o tópico final, as amizades constantes que vai criando e que serão o seu fim ou a sua salvação, sempre com uma imprevisibilidade gratificante.

Citando as palavras de Beth: A vida é imprevisível ao contrário do tabuleiro de xadrez onde tem a completa capacidade de ser dominante e implacável.

Infelizmente, Gambito de Dama não terá certamente o mesmo número de audiências que a maioria das séries da Netflix apesar da popularidade da atriz principal, o que é uma pena, pois estamos perante uma das melhores mini-séries (um longo filme de certa forma) do ano, com um elenco excecional, uma cinematografia memorável e uma narrativa inspiradora recheada de emoção e uma reflexão acerca do crescimento psicológico de cada indivíduo.

Classificação: 8/10

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