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Fallen Angel Omnibus

fallen angelPor Diogo Campos
Bete Noire, a besta negra, a cidade que molda o mundo. Fundada por uma conhecida personagem bíblica, Bete Noire é um reflexo do mundo e tudo o que acontecer nela terá reflexos no mundo lá fora. Apenas uma das 3 cidades do género em todo o mundo, o Magistrado, papel delegado de geração em geração ao primogénito, é quem controla a cidade com a supervisão da misteriosa Hierarquia.

Bete Noire se fosse uma pessoa, seria uma mulher. Moldando-se conforme a sua misteriosa vontade, é a cidade que escolhe quem sai, quem entra, quem vive e morre delegando funções a determinadas pessoas, não permitindo a existência de médicos e outras funções que atrapalhem os misteriosos desígnios de Bete Noire.

A cidade funciona num equilíbrio entre as várias facções que vivem e fazem os seus negócios dentro de determinadas zonas. Furors é um bar, uma zona neutra onde rivais podem conviver. Durante a noite é também a base de operações de Lee, o local de encontro dos desesperados com a Fallen Angel, o último recurso numa cidade louca onde o pior da humanidade sobressai.

Numa cidade refém dos caprichos do Magistrado onde o crime e corrupção imperam durante a noite, Lee faz justiça pelas próprias mãos numa constante luta entre os desígnios do seu antigo “patrão”, a sua própria visão de justiça e os interesses do Magistrado.
Lee, Liandra, Fallen Angel, como o próprio nome indica é um anjo caído após se ter rebelado contra o seu criador e chefe. Sendo um anjo da guarda, Lee tinha como tarefa proteger a pessoa que lhe era atribuída mas quando uma delas que tinha a habilidade de a ver (as pessoas não conseguem ver normalmente os anjos que lhes são atribuídas), ela desobedece e mata o assassino da sua protegida. Extirpada das suas asas e da quase totalidade dos seus poderes, Lee torna-se assim a protectora de Bete Noire envolvendo-se, tanto dentro como fora da cidade, nos seus mistérios e estranhas hierarquias, enfrentando seres sobrenaturais, frustrando os planos e envolvendo-se com o Magistrado que neste livro é revelado como sendo um padre seu filho.

fallen angelEsta personagem encontra-se muito ligada à run da Supergirl do Peter David não sendo possível falar de uma sem mencionar a outra. Desde o inicio se suspeitou que Lee era nada mais do que Linda Danvers, a Supergirl pós-Crisis on Multiple Earths mas com ambos os títulos (Fallen Angel e Supergirl do Peter David) cancelados por parte da DC apesar das vendas simpáticas, teria que haver maneira de resolver o problema. A DC nunca quis confirmar esta ligação e quando a Fallen Angel mudou para a IDW já com a Supergirl cancelada e a personagem lançada para o limbo, uma solução impunha-se. Assim, as dúvidas foram resolvidas já na IDW, nos números 14 e 15 desta colecção de uma forma bastante inesperada tornando Lee, a actual protectora de Bete Noire na mais recente de uma série de justiceiras da cidade.
A leitura do actual título da IDW (e do omnibus) não dispensa o título original mas consegue ser um excelente complemento e continuação 20 anos depois dos acontecimentos da temporada da DC. Mostrando logo à partida as origens da Fallen Angel, o leitor é atirado para uma vertiginosa aventura onde o Lee e Juris, o antigo Magistrado, disputam a sua visão de como Jude, o mais recente Magistrado e filho destes dois últimos, terá que reinar.

A pesquisa que o Peter David fez para este livre é bastante interessante. Os papéis habituais de certas pessoas na cidade como o chefe de segurança, o informador, o fornecedor de drogas, o capataz, escondem velhos arquétipos conhecidos e que fácil ou dificilmente se identificam conforme o papel de cada um. As referências bíblicas são muito subtis havendo espaço para muitas outras religiões e crenças sem no entanto atrapalhar a leitura. Se há obras onde as referências se tornam essenciais para entender a história, aqui não se impõe esse caso pois toda a história é escrita de forma tão terra-a-terra que conforme a pessoa procure uma história simples de acção ou algo mais complexo, facilmente a encontra.
Apresentando uma visão muito crítica e polémica de Deus, Peter David criou uma mitologia própria e bastante única onde faz reflectir tanto os grandes acontecimentos que moldam actualmente o mundo como pequenas histórias do dia-a-dia sempre com um humor leve e já habitual no autor. Facilmente se chega à conclusão que Bete Noire é a personagem principal de um enorme puzzle na qual nos dão peças muito subtilmente, espaçadamente e sob a forma de imensos e variados acontecimentos e personagens. É uma pequena pérola no meio dos comics norte-americanos que a DC não quis manter mas que vale bem a pena pelo seu ambiente negro e originalidade das histórias.

No que concerne à arte, David Lopez, o original desenhador da série não pode acompanhar a ida do título para a IDW calhando a tarefa a J.K. Woodward. Lembrando um pouco o estilo do Alex Ross, este artista usa claramente referências fotográficas no seu espantoso trabalho pintado “construindo uma Bete Noire a partir de sombras” ao longo de quase todo este livro deixando apenas uma história onde Lee e Shi visitam uma outra das 3 cidades mencionadas atrás para criador da Shi, Billy Cucci, desenhar.

Pontuação: 7.5/10

Argumento: Peter David
Arte: J. K. Woodward, Kristian Donaldson, Dennis Calero, Joe Corroney e Billy Cucci
Editora: IDW

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