Screen X – A tela a 270º que faz da sua casa a nossa!
O Central Comics esteve presente na antestreia de Bad Boys Para Sempre, na sala ScreenX do NorteShopping, em Matosinhos, e conta aqui como foi a experiência.
2019 remou contra a corrente no que toca a afluências ao cinema preferentemente comercial, com um aumento de 5 % tanto nas receitas de bilheteira como em espectadores. Foi no fim desse ano que a NOS promoveu um cinema mais diversificado com muitas variáveis no leque de experiências da sétima arte.
Estas novas salas, localizadas no NorteShopping, trouxeram consigo várias opções, uma delas o Screen X. Esta revelou-se, como pudemos comprovar nesta quarta-feira da antestreia de Bad Boys Para Sempre, uma sala com uma boa ergonomia e muito satisfatória ao olhar e à mente do cidadão do mundo, que progressivamente é mais selectivo nos serviços que escolhe para a sua vida.
Diria que este avanço técnico estimula o “eu”, faz dele o protagonista/narrado. Quem assiste sente a responsabilidades do foco, é importante não perder de vista tudo o que se passa naquelas três paredes (fundo e laterais) que mostram todo um panorama de seres com alguns problemas semelhantes aos nossos e outros mais longínquos, que também positivamente despertam o imaginário da pessoa criada que se posiciona na criação alheia.
E porque “não há planeta B” foi agradável perceber que estas inovações são amigas do ambiente, uma vez que têm sistemas de poupança de energia e lâmpadas sem mercúrio. O ar parecia ameno nesta sessão, tranquilo, sinónimo de novidade, mas também de uma exigência mais profissional em formar os públicos a saber estar nos cinemas, ao mesmo tempo que estes se vão transformando em lugares ativos não só no ecrã como igualmente fora dele. Desfazendo labirintos imundos para juntar mapas claros de partilha de um espaço público, que se faz do consumo e da produção de espetadores sérios.
Imersão é a palavra de ordem quando vamos ao Screen X, como dizia Luigi Pirandello:
Não existe apenas uma realidade, existem várias com muitas representações.
Este era um homem que falava da ilusão do real, acreditava mais na fantasia… ora vejo o Screen X um pouco sobre este prisma, já que demonstrando uma outra realidade e rompendo com a usual vista frontal das salas comuns, oferece ao individuo uma das pistas da sua ilimitada existência, abre uma porta de possibilidades para quem paga para provar e para quem gera para dar, sendo que apenas serão exibidos nesta sala os filmes desenvolvidos para esta tecnologia.
Embora haja quem vá ao cinema privilegiando o convívio mais cultural, dando a mão aos clássicos e influências sociais que a saída de casa para o evento formal acarreta, há todo um grupo para quem os elementos modernos avançados se tornam essenciais.
It’s the new frontier e pode dar volume ao cinema em Portugal, trazer curiosos ou rebeldes que tenham cortado ligações numa altura em que podemos ter em casa ecrãs de grandes dimensões e filmes com qualidade Ultra HD 4K, aumenta a desconfiança e assiduidade da população, a NOS e órgãos idênticos, devem obrigatoriamente estar preparados para a altura dessas expectativas.
Deste modo, antes de assistir a Bad Boys Para Sempre neste formato, tinha já receios e anseios associados à longa metragem e à sala que ia experimentar, alguns fundamentaram-se, outros foram só fogo de vista. O “wow” que se fez ouvir no local, logo de inicio, foi uma apologia ao mergulho que o Screen X provoca, o problema é que não ficamos dentro de água por muito tempo, pois nem todas as cenas da película se espalham pelas transversais. Não sendo esse o mal maior, o problema está numa, por vezes, achada incoerência das imagens laterais com as do centro, em certos momentos passavam a ser fotografias quietas, em freeze em relação ao quadro central recheado de ação, e a combinação não corre bem nesses casos. Essas opções retiram a tal veracidade que o Screen X se proclama, rapidamente relativizando aquele cenário de 270º a um brinde que aparece de ligeira e que sorrateiramente se imobiliza para funcionar mais como uma cortina do que propriamente como uma panorâmica.
Não retiro gratificações ou brio a esta recente configuração de cinema, aviso de contrariedades muito claras à luz do filme que assisti e que anulam esta sensação de renovação completa. Penso que o Screen X vive de estados de espírito, mutável pelas decisões dos filmes que transmite, instável quando cozinha multidões numa panela sem lume.
Fotos: abertoatedemadrugada.com
Atriz e professora. Da marginalidade à pureza gosto de sentir tudo. Alcanço o clímax na escrita. Sacio-me com a catarse no teatro. Adiciona-se uma consola, um lightsaber, eye makeup quanto baste e estou pronta a servir.*De fundo ouve-se Fix of Rock’n’Roll, de The Legendary Tigerman*