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Lançamento: Efeméride 5 – Corto Maltese No Século XXI

Geraldes Lino lança mais um fanzine Efeméride, desta feita dedicado à personagem maior de Hugo Pratt, o Corto Maltese. (clica nas imagens para ampliar) [fbshare]

Corto Maltese no Sec XXI por J Coelho e David Soares“Corto Maltese alter ego de Hugo Pratt.
Há muitas semelhanças entre Hugo Pratt, autor de banda desenhada, e Corto Maltese, herói de papel por ele criado. É um facto detectado pelos especialistas e pelos leitores mais atentos.

Todavia, um pormenor importante os distingue. Enquanto que Hugo Eugenio Pratt, como qualquer mortal, nasceu apenas uma vez – em Rimini, Itália, a 15 de Junho de 1927 -, Corto Maltese nasceu duas vezes, por muito estranho que isso pareça, mesmo para uma personagem de BD.

Corto Maltese Sec XXI por Pedro MassanoA primeira foi quando o seu criador ficcional e gráfico lhe marcou, como data de nascimento, 10 de Julho de 1887. A segunda teve lugar no acto concreto da sua aparição comopersonagem de banda desenhada, no primeiro número da revista mensal italiana Sgt. Kirk, em Julho de 1967. É nessas páginas que se publicam as primeiras seis pranchas da novela gráfica Una Ballata del Mare Salato.

Quando Corto surge, a sua imagem não corresponde propriamente à de um herói: ele aparece amarrado a uma cruz decussata em cima de uma jangada que voga ao largo das ilhas Salomão, em pleno Oceano Pacífico. E representa, naquela obra seminal, o papel de mero figurante.
Para cúmulo, as suas origens que posteriormente se vêm a tornar conhecidas, também não são brilhantes Corto Maltese Sec XXI Carlos Pascoanem têm especial dignidade: nasceu em La Valetta, na ilha de Malta, fruto de relação casual entre a cigana andaluza Niña de Gibraltar, prostituta, e um marinheiro inglês da Cornualha, de passagem ocasional por aquela ilha mediterrânica.

Quanto a semelhanças entre a personagem e o criador, nenhumas até aqui, obviamente. Na realidade, elas detectam-se ao compararem-se com as características nómadas do seu progenitor artístico – neste caso, o autor da ficção -, visto que Corto, sendo marinheiro de profissão, desempenhará, ao longo da saga, o papel de aventureiro errante, protagonista de peripécias em África, nas Caraíbas, no Brasil, na Rússia, na Irlanda, em Itália, mais concretamente em Veneza, cidade pela qual se sente da sua parte um subtil fascínio.

CORTO MALTESE Sec XX Ipor JASAqui, a semelhança é flagrante. Pratt, embora nascido em Rimini, passou a infância e parte da juventude naquela belíssima cidade do Adriático, que sempre considerou como a sua verdadeira terra deorigem.
E, tal como Corto, também ele viajou muito, tendo vivido mesmo em diversos países -além do seu país de origem, onde viveu a infância, permaneceu durante algum tempo na Etiópia, mais tarde na Argentina, onde trabalhou bastante na BD, depois no Brasil (Baía, Amazónia), e finalmente na Suiça, onde terminou o seus dias, vitimado por cancro, a 20 de Agosto de 1995.

Outras características coincidentes entre autor e personagem: ambos são atraentes e volúveis.

Corto Maltese Sec XXi por Jose Pedro CostaQuanto a Pratt, a sua vida amorosa iniciou-se na adolescência quando vivia na Etiópia, com uma jovem etíope chamada Mariam. Depois desta foi Fernanda Brancati, mas também Erika, Leonora Schena, e várias outras namoradas, até chegar às três mulheres principais da sua vida: Gucky Wogerer, de origem jugoslava, com quem casará em veneza, em 1953 (de cujo casamento nasceram Lucas e Marina) e se divorciará em 1957; Gisela Dester, de origem alemã, que será sua assistente e companheira; e Anne Frognier, de origem belga, com quem teve um filho, Giona, e uma filha, Silvina. Mas também teve uma filha com uma mestiça brasileira da Baía, e a seguir, numa breve passagem de vinte dias pela Amazónia, onde viveu com os índios Xavantes, por lá ficou um filho seu.

Corto Maltese por Ricardo CabritaNo que diz respeito a Corto Maltese, ele é um dos mais charmosos heróis de papel, capaz de impressionar fortemente as mulheres com quem se cruza – Pandora, Morgana, Banshee O’Dannon, Louise Brookszowic, a “bela de Milão”, “Pezinho de Prata”, entre outras -, e torna-se evidente a sua atracção por algumas, mas jamais se fixará em qualquer delas.

Isto para que – como confidenciou Pratt numa entrevista – Corto se mantenha sempre disponível. Astuto enquanto ficcionista, o autor criou-lhe uma situação especial, a de estar fortemente ligado a um amor perdido, estratagema digno de um criador de génio.

Mas talvez para o mostrar sensível a uma certa nostalgia amorosa, Pratt inculcou-lhe uma bem humana reacção: a de não conseguir apagar da memória a recordação da jovem Pandora, que conhecera em 1913 – tinha ele vinte e seis anos – numa ilha do Pacífico.

[ad#lateral]

corto maltese por joana afonsoUma outra afinidade entre autor e personagem advém do facto de já muito divulgado de Pratt ser maçon. Em Fábula de Veneza, percebe-se que só alguém conhecedor das praxes maçónicas e dos seus secretismos, poderia incluir, logo na página inicial, certas palavras porventura habituais naquelas cerimónias (proferidas por um encapuçado): “em nome da maçonaria universal, sob os auspícios da Grande Loja de Itália”.

Ora, enquanto personagem, Corto igualmente participa, embora acidentalmente, numa reunião de encapuçados maçons. E quando ele comenta “por certo os senhores são da Pitágoras”, depreende-se que tem conhecimentos na matéria, mesmo que sendo apenas “o profano Corto Maltese”, como lhe chama o “irmão Scarpetton”, “Mestre Secreto”.

Há ainda um aspecto que mostra como o autor se espelhou na própria personagem: é sabido que Pratt, na sua errante e bem preenchida juventude, chegou a cantar em festas. E Corto também gosta de cantar. Constata-se esse pormenor no episódio Concerto em O Menor para Harpa e Nitroglicerina, quando sai da sua boca um balão de fala cheio de notas musicais, acompanhadas dos versos: “Hoje sou um javali/Sou um rei forte/e vencedor/O meu canto e as minhas palavras eram gratas noutros tempos…”

Restarão dúvidas de que Corto é o alter ego de Pratt?”

Geraldes Lino, do editorial do fanzine

Efemeride 05 - Corto Maltese
Efeméride 5 – Corto Maltese No Século XXI

De Vários
Capa: Regina Pessoa
Editor: Geraldes Lino
PVP:
150 exemplares
88 Págs
Pub: Compra aqui este fanzine.

Algumas páginas do Anterior de cima para baixo, são as seguintes (clica para ampliar):

1) Prancha do episódio “Os dois Pratts”, de JCoelho (desenho), David Soares (argumento)
2) Prancha do episódio “No séc. XXI? Aquilo já era esquisito no séc. XX”, de Pedro Massano
3) Prancha do episódio “O Vazio”, de Carlos Páscoa
4) Prancha do episódio “Corto no Alentejo”, de João Sequeira “JAS”
5) Prancha do episódio “Cliché”, de José Pedro Costa
6) Prancha do episódio “Corto Maltese e as Mulheres no Século XXI”, de Ricardo Cabrita
7) Prancha do episódio “Numa Praia da Linha”, de Joana Afonso

Autores das bandas desenhadas (desenhadores e argumentistas) por ordem alfabética:
Alice Geirinhas; Álvaro; Ana Madureira; André Ruivo; ARechena (Andreia Rechena, Dona Zarzanga); Arlindo Fagundes; Carlos Páscoa; “Zíngr” (Carlos Zíngaro); Daniel Lopes; David Campos; David Soares; Falcato (Miguel Falcato); Ferrand (Ricardo Ferrand); Filipe Abranches; J. Mascarenhas; JCoelho (Jorge Coelho); Joana Afonso; João Chambel; João Sequeira (JAS); José Lopes; José Pedro Costa; Lam (João Pedro Lam); Luís Guerreiro; Luís Pedro Cruz; Machado-Dias; Marco Mendes; Maria João Careto; Mota (Pedro Mota); Nazaré Álvares; Nuno Saraiva; Paulo Monteiro; Pedro Massano; Pedro Nogueira; Pepedelrey (Elpep); Regina Pessoa; Renato Abreu; Ricardo Cabral; Ricardo Cabrita; Roberto Macedo Alves; Rui (Rui Pimentel); Santo (Ricardo Santo, Ricardo Santo Machado); Susa (Susa Monteiro, Susana Monteiro); Tiago Baptista; Vasco Gargalo; Victor Mesquita.

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O fanzine Efeméride foi criado no invulgar formato A3 para homenagear personagens de banda desenhada criadas em tempos idos, e que foram atingindo, após o seu aparecimento – quer nos suplementos dominicais americanos, quer em revistas – um número redondo de anos: Little Nemo in Slumberland, de Winsor McCay, teve início em Outubro de 1905, o que deu azo à comemoração da efeméride dos cem anos, tendo eu editado o primeiro número do fanzine Efeméride em Outubro de 2005, com o título Sonhos de Nemo no Século XXI, cujas pranchas constituiram uma exposição patente no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora
O projecto desenvolveu-se com as obras Príncipe Valente no Século XXI (Nº 2 – Fevereiro 2007), Super-Homem no Século XXI (Nº3 – Junho 2008), Tintim no Século XXI (Nº4 – Junho 2009) e, finalizando a existência do fanzine, com o nº5 dedicado a Corto Maltese no Século XXI (*), neste mês de Julho de 2012, quarenta e cinco anos depois do início da sua publicação, na revista italiana Sgt. Kirk, em Julho de 1967.

(*) Tal como acontecera com as pranchas do nº1, também as deste nº 5 deram azo a uma exposição, desta vez no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, entre 26 de Maio e 10 de Junho de 2012.

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