Cinema: Crítica – Green Book – Um Guia Para a Vida (2019)
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Olhando para o currículo de Peter Farrelly, deparamos-nos com clássicos da comédia dos anos ’90 e ’00, como Doidos à Solta ou O Amor é Cego. Assim, é com alguma surpresa que damos com Green Book – Um Guia Para a Vida como o biopic de Frank “Tony Lip” Vallelonga e Dr. Don Shirley.
Vindo de mundos diferentes, Tony (Viggo Mortensen) é um segurança num bar, que acaba por ficar fechado durante dois meses para obras, onde entretanto conhece Don (Mahershala Ali), um músico incrível prestes a ir em tournée pelo sul dos Estados Unidos cujo necessita de um motorista/guarda-costas, ao qual promete um bom salário no fim da viagem. O que nenhum dos dois homens esperava era que tinham algo a aprender um com o outro.
Farrelly, com um argumento que contou com a colaboração de Nick Vallelonga, filho de Tony, traz para a mesa todos os ingredientes que fazem parte duma receita quase perfeita, abordando sobretudo a temática do racismo e como ele foi encarado durante 1962, altura que ainda exista o Green Book, uma publicação com informações onde negros poderão se sentir seguros, com vários hotéis e restaurantes onde são bem-vindos. Mas este guia é apenas uma nuance para o resto que vem daí.
Estamos perante dois homens muito distintos. Enquanto Tony vem de descendência italiana, o mesmo sempre viveu no Bronx com a sua família e os seus amigos, mantendo uma relação local com o mundo em seu redor; do outro lado vemos Don, um músico culto, um génio ao piano, com uma educação que lhe forneceu uma vida mais estrita que o usual. Naturalmente, ao início, estas duas personalidades não se dão bem, mas a beleza vem da noção que ambos podem ganhar perspectiva na troca de experiências, enquanto passam por uma que certamente não se irão esquecer.
O racismo abordado é parecido com o lote que vimos em BlacKKKlansman: O Infiltrado, de Spike Lee, também um filme que tenta dar um ar cómico ao racismo, estando mais próximo da ideia de ser nervosamente engraçado porque a arte está a imitar a vida real, Green Book ganha em ser um filme mais focado na construção da amizade destes homens que não tinham escolha senão aturarem-se um ao outro durante a digressão e criarem uma relação forte entre eles, mantendo um nível de seriedade consistente, enquanto que o filme de Spike Lee explorou a veracidade duma situação ridícula.
O dito bromance entre Mortensen e Ali é algo bonito de se ver, sobretudo porque vemos a olhos vistos uma mudança em como se veem nas suas comunidades, respeitando as diferenças duma forma humana, ao qual se junta uma boa desculpa para chamar deste filme um road movie, conhecendo muitos dos locais do profundo Sul, longe das grandes metrópoles.
Existindo um bom balanço entre comédia e drama, Green Book – Um Guia Para a Vida prova que não devemos julgar alguém pela sua aparência e aprender a apreciar a troca de experiências, pois a jornada de cada um é única, dando-nos a oportunidade de abrir os horizontes sobre o mundo que nos rodeia. Estes senhores certamente o fizeram, a bem ou a mal, mas são ambos melhores pessoas por isso.
- Green Book – Um Guia para a Vida estreia a 24 de janeiro 2019 nos cinemas
Nota Final: 8/10
Ricardo du Toit
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Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.