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Novos Troféus Central Comics – Considerações

Por André CaetantoAgora que começam os anúncios para o X Troféus Central Comics, evento que marca uma década de prémios do público à BD portuguesa, fazemos o rescaldo aos prémios anteriores, que marcaram uma profunda alteração na estrutura do TCC.[fbshare]

Estas considerações tratam especificamente os feedbacks recebidos de colegas bloguistas em relação ao novo regulamento. Porém, por acharmos que nem todos os pontos levantados carecem resposta, pois há questões apontadas que se prendem com opções do júri, que continuam tão válidas quanto as sugestões alternativas feitas, debruçamo-nos apenas sob a matéria mais pertinente.

Começamos pelo uso da palavra “Estatutos” aplicada ao TCC: embora achemos que, pela sua definição, podemos aplicá-la aqui (i.e. *statutum, 1) Decreto, lei; 2) Regra ou norma de funcionamento, regulamento), o que poria termo à questão, de facto a designação mais apropriada é “Regulamento,” que desde sempre utilizámos, aliás.
A origem do uso de “estatutos” no TCC vem da versão inicial dos prémios, em que, devido à extensão do documento com critérios do evento, foi preciso dividi-lo em duas partes para mais fácil acesso ao que se procurasse; a “regulamentos” que designavam objectivos e procedimentos do TCC foi decidido chamar-se Estatutos, porque, por defeito, foi o termo melhor enquadrável aos tópicos frisados, e às regras que definem as categorias chamou-se Regulamento.

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Importa lembrar que na altura havia muitos debates sobre o evento no fórum – que promovemos em prol de pluralidade face aos regulamentos – pelo que, para agilizar a conversa, foi (muito) útil haver nomenclaturas diferenciadas para aludir a documentos também diferentes, porém confundíveis. Nada disto é novo e já tinha sido apontado várias vezes no passado, logo para começar nas notas de imprensa que emitimos, pelo que faz-nos confusão a critica só surgir agora, no 9º ano dos troféus… Recomenda-se, pois, que sejam lidos de antemão esses comunicados, para se evitar comentários redundantes.
Entretanto, ao alterar-se a composição dos troféus no ano passado, não largámos a designação “Estatutos,” talvez por hábito. E embora continuemos a achar a questão dúbia e discutível, não há melhor altura como esta para corrigir esse detalhe e doravante usaremos só a designação “Regulamentos” – como já era indicado no próprio documento, repetimos.

Outro ponto de importância é desde o começo tentarmos não divulgar o TCC como “concurso” e só raramente o referimos como tal (e mesmo então, certamente por lapso). Um concurso, como é geralmente entendido (independentemente dos dicionários), é uma iniciativa onde os participantes vão competir por algo, com trabalhos feitos para essa competição e, usualmente, de propósito. E para quem circula no campo da BD e artes, “concurso” é uma palavra conotada com disputas artísticas. É o que automaticamente nos vem à cabeça e nisso não há volta a dar. Do mesmo modo, não é um termo comumente aplicado a bienais – apesar de serem efectivamente concursos… – ou eventos que premiem criações literárias. Esses, são “prémios.”
Ora, o TCC quer-se um evento de premiação onde várias obras e autores concorrem, sim, mas numa óptima de consagração, por trabalhos já feitos e nem sequer voluntariados pelos respectivos criadores. Essa é a diferença substancial entre a política do TCC e o de demais concursos. Existe um júri, mas não como noutros prémios, pois é o grande público que decide quem vence, e embora não deixemos de ser um “concurso” per se, não esse é o aspecto a sublinhar, pois o que visamos divulgar são as obras e autores, via um evento de exultação – que premeia os favoritos. Por isso denominamos o TCC como um prémio ou um evento de prémios.

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É também por o encararmos como um evento – chamado Troféus Central Comics – por que, gramaticalmente, é usual o referirmos no singular (i.e. “o” evento TCC) e não no plural, em referência aos vários troféus entregues. Por exemplo, não se trata o Prémio Stuart de Carvalhais por “prémios” apesar de entregar dois deles, certo? Da mesma forma que podemos dizer “A Cerimónia de Entrega dos Troféus Central Comics”. Sendo portanto, singular ou plural, conforme o contexto.

Mudando de tópico e, novamente, apesar de o termos explicado em comunicado e a menção no regulamento ser auto-explicativa, outro aspecto não entendido prende-se com a cláusula que separa obras editadas há mais de 20 anos, das recentes.
Explicamos: ao contrário do que foi interpretado (extrapoladamente), o critério visa só diferenciar obras antigas ou “clássicas” das demais, agora que incluímos uma nova categoria (i.e. Melhor Publicação Clássica).
Pelos mesmos motivos que, internacionalmente, e também por cá, se começou a criar prémios para álbuns clássicos relançados, achámos injusto para com as novas obras forçá-las a competir pela preferência dos leitores com criações já popularizadas e de mérito, que iriam ensombrar estas novas. Convenhamos, de que vale fazer prémios se continuamos a propor a voto as mesmas e inegáveis obras, que poucos hesitariam a (re)consagrar, havendo outras igualmente merecedoras, recentes? Será isso justo para com novos talentos, que visam atingir a sua própria celebridade e espaço na comunidade criativa?…
Dada a expressão que esses álbuns continuam a ter no mercado (i.e. colecções d’O Público/Asa e álbuns da Libri Impressi, et al), o júri decidiu que 20 anos seria margem suficiente de tempo para cumprir esse efeito, pelo que as obras publicadas no ano passado que tenham sido editadas originalmente há mais de 20 anos, são remetidas para a categoria Melhor Publ. Clássica; e as restantes, também editadas no ano transacto mas produzidas e/ou editadas há menos de 20 anos, constam nas demais categorias.
Já agora: subentende-se que obras com mais de vinte anos mas que não tenha sido editada antes – daí a razão pela alínea indicar “produzida” e não “editada” –, não será automaticamente tida por clássica. Casos omissos são, como sempre, deliberados pelo júri.

Nem a propósito, discordamos que “redux,” enquanto termo, seja incorrecto. Redux corresponde a uma conotação corrente e particular de que “retrabalhada” é só uma tradução directa. Não sendo nenhuma destas melhor que a outra, preferimos continuar a aplicar o termo “redux” (num latim a que temos tanto direito linguístico como qualquer outro país mediterrâneo), para incentivar a uma designação específica e mais prática no contexto da criação artística – a qual tem precedentes no campo da nossa BD, aliás.

E a razão por que desgostamos da sugestão “Melhor Livro Nacional” deve-se ao mesmo motivo porque nos foi criticada a opção de Melhor Publicação Nacional: porque “livro” é um termo vago e, pior, mais do que “publicação”, é conotado com formatos nada concordantes com a sua aplicação em obras de BD. “Livro” usualmente refere-se a edições de prosa, não álbuns de arte sequencial. Como esse termo era pouco útil, por ser específico demais (i.e. no começo, a categoria chamava-se Melhor Álbum Nacional), a dada altura optamos por “Publicação”, palavra até então pouco usada no contexto de prémios e que dava aos TCC uma nomenclatura algo própria, que ajudasse a distinguir as nossas consagrações de outras. A nosso ver, qualquer outra opção, como “Melhor Livro de BD Nacional,” seria também específica demais (ficariam excluídas obras mais experimentais como Aaron Slobodj, New Born, Viagem da Virgem, etc), pelo que mantemos o nome da categoria.

Sobre o critério que distingue edições amadoras de profissionais, ficámos contentes que a questão tenha sido abordada. O tópico é fulcral e foi sempre uma problemática na qual tentámos envolver os comentadores do sector, para nos ajudarem a determinar quais os parâmetros de apreciação mais transversais e correctos, para que pudessem ser tão amplamente aceites quanto possível – infelizmente, nunca tivemos sucesso nisso, por falta de feedback dos comentadores. Acabámos por ter de os definir nós mesmos e continuamos a ter a nossa metodologia como a mais clara do panorama nacional, embora seja certo haver “zonas cinzentas”, em especial após o advento da impressão digital e chegada da imprensa independente.
Contudo, não obstante o “como”, a destrinça importante de se continuar a fazer prende-se com a diferença – imensa – entre as tiragens e distribuição das obras. Sendo certo que, hoje em dia, qualquer pequeno editor pode justificar este epiteto e lançar livros de alta qualidade (ou perto disso), seria injusto que obras de meras 100-200 cópias (informação muitas vezes disponível nos dados técnicos) e só colocadas à venda em festivais (e não em todos) ou lojas da especialidade (e não em todas), vão a votos com outras, por grupos editoriais ou chancelas maiores, que raramente editam abaixo das mil cópias e conseguem alocar exemplares não só nas lojas de BD como nas livrarias generalistas, e em representatividades que facilmente ultrapassam os grandes centros urbanos.

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Sejamos directos: como os votantes no TCC usualmente se situam nos 800, sendo metade disso o número que determina os títulos vencedores, dificilmente obras de 100-200 cópias chegam para todos os leitores em causa… A tiragem teria de esgotar nesse ano (em 6 meses, nos casos lançados no último trimestre!) – coisa que manifestamente não acontece (e poucas vezes se esgotam de todo!) – para justificar a popularidade e o prémio consequentemente conferido. Ora, é óbvio que muitos (maioria?) dos leitores lê as obras nas livrarias, por empréstimo ou vota por mera simpatia. Contra tal, nada podemos fazer, mas no TCC não nos interessa ajudar a criar falsos fenómenos de popularidade e batemo-nos ano após ano contra votos-fantasma que visem aumentar sob falsos pretextos o destaque de certas obras. Foi por isto que criámos a nova categoria Melhor Publicação Independente, ali mesclando algumas das melhores edições de fanzines num único lote dedicado aos editores independentes (sejam profissionais efectivos ou ilustres amadores), onde obras de iguais/equiparáveis tiragens e distribuições podem competir equitativamente.

Mais: edição “independente” não é, contrariamente ao afirmado algures, um termo surgido nos últimos anos. Embora não exclusiva deste sector, é aliás uma designação muito comum no mercado da BD e utilizada desde há décadas, tanto na BD norte-americana (ali, “independentes” da indústria mainstream e de grandes editoras monopolistas), como na BD europeia (como o Comptoir des Independents, autores-editores “independentes” dos grupos que tutelam as grandes chancelas francófonas). E sendo verdade que tudo no nosso país é reflectido em escala menor, continuamos todavia a ter editoras de maior projecção, por vezes ligadas a grupos editoriais (como a Asa, Afrontamento e Devir, ou mesmo a Booksmile, que imprimiu 5 mil livros do 1º Scott Pilgrim) e os ditos “pequenos editores” ou “pequena imprensa.” Mas por repudiarmos estes dois últimos termos, algo redutores, optámos por uma nomenclatura de imediato entendimento na área da BD como sendo alusiva a chancelas de autor-editor ou alternativas: editores independentes. E nem estamos sozinhos nisto: vários têm sido os editores que se auto-denominam como independentes, pelo que não se trata sequer de um termo que estejamos a forçar.

Posto isto, algo que definitivamente não faremos é dividir a categoria Independentes em três, como foi nos sugerido considerar. O mote da mudança nos TCC foi agrupar melhor, dentro do que seria adequado, géneros de edições tão díspares como as que temos (e lamentamos deixar fora algumas, de menor expressão, que se tornaram menos pertinentes no mercado “palpável” e no que toca aos votantes – mas para as quais preparamos boas novas), pois é-nos incomportável manter todas as categorias existentes. Por outro lado, é fulcral não diluir a competição entre nomeados; não há actualmente variedade e quantidade suficiente de edições nacionais para justificar essas propostas de categorias, infelizmente… E não vamos promover casos como existem noutros prémios, onde um nomeado acaba automaticamente sendo indigitado como vencedor, por ser o único concorrente à distinção.

Sobre a categoria Melhor Autor, admitimos que a experiência não é a mais conveniente ao TCC. O intuito derivou da tentativa de um dos jurados de aproximar o nosso evento do modelo de prémios de Angouléme, porque BD é uma ARTE que combina grafismo e escrita, indissociavelmente; logo, não faria sentido avaliar ambas separadamente. Continuamos a achá-lo e o objectivo foi mudar o foco da pessoa-autor para a autoria da obra, e essa não deve ser “apartidizada”, separada em o-que-é-desenho e o-que-é-texto. Mesmo se um dos autores envolvidos for mais talentoso que o colega, será sempre do resultado dessa parceria que surge a Obra, e é essa autoria, sinergia criativa e resultado final, seja ele feito por uma única pessoa, por uma dupla ou grupo de autores, que ali pretendemos fosse premiado. Daí o motivo da junção escritor+artista.
No entanto, percebemos que quem avalia o trabalho conjunto dos autores também vai favorecer o próprio álbum, criando-se assim condições para que, seguramente, haver sempre ex-aequo em ambas categorias, o que torna irrelevante essa competição. Como tal, resolvemos reinstituir a separação das categorias autorais, agora denominadas Melhor Argumento (TCCArg) e Melhor Arte (TCCArt), que continuará a incidir apenas sob autores nacionais.

Como nota final, ressalvamos que, a nível da atribuição em casos de autoria conjunta (i.e. seja co-edição entre chancelas ou dupla de autores), é-nos quem fica com o troféu. Não é uma responsabilidade nossa, obviamente, e raia o ridículo sugerir que qualquer nomenclatura e definição do categoria deva ser mudada por isso. Até porque, se os vencedores quiserem, pode ser produzido um 2º prémio para que ambos tenham uma estatueta. Para nós, esta é uma falsa e liliputiana polémica…

Esperamos ter elucidado os pontos pertinentes, sem demagogias ou investidas em falso, com base em factos e também convicções razoáveis, mas estamos dispostos a receber mais críticas relevantes (geral(a)centralcomics.com), desde que devidamente assinadas, a que prontamente responderemos noutro editorial.

previews O Lobo Mau

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