BD: Lançamento – Foi assim a guerra das trincheiras
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“O que interessa a Tardi, é mostrar o absurdo de um conflito e a confusão dos pobres coitados arrastados nesta máquina que os tritura sem perdão. Tardi fala da guerra, de todas as guerras. Com a angústia de a ver regressar um dia, em toda a sua loucura assassina.”
– Gilbert Jacques
Nascido em 1946, Jacques Tardi é um dos mais importantes autores de banda desenhada franceses, e um dos mais influentes no panorama mundial. Criador da célebre série das Aventuras de Adèle Blanc-Sec – alguns dos álbuns já foram editados em Portugal no passado, e a série deu inclusive origem a um filme realizado por Luc Besson – a sua obra é um fresco rico e imaginativo da França, de Paris, da revolta e da pobreza, da miséria, e as escolhas que fez de histórias para contar fazem surgir da sua criação uma impressionante coerência imaginativa, afectiva e talvez mesmo política. Várias vezes premiado no Festival de Angoulême, foi também vencedor de três Prémios Eisner.
Tardi começa a sua carreira como ilustrador em 1969, e colabora em projectos de vários autores conhecidos (como Christin, um dos criadores de Valérian e Laureline), antes de lançar em 1976 a série Adéle Blanc-Sec e em 1982 a série policial Nestor Burma, com as quais atingirá uma grade fama. Mas a Primeira Guerra Mundial tornou-se no tema central da sua obra, ao ponto de ser conhecida a sua “obsessão” por ela. Ao longo dos anos, a Grande Guerra mudou de papel na sua obra, de simples pano de fundo, ou pretexto, para contar historias várias, passou a verdadeira personagem central, numa evolução que teve tanto de emocional, como intelectual ou política. Cada vez mais históricas – e muito apoiadas na colaboração frequente com o historiador Jean-Pierre Verney – as suas bandas desenhadas sobre o tema servem também cada vez mais como denúncia poderosa e crua da “der des ders” – a guerra que ia acabar com as guerras – e biografia dos homens comuns que foram apanhados na sua engrenagem terrível. Entre outros livros que têm a Primeira Guerra como tema central, poderemos mencionar Varlot Soldado (editado em português pela Polvo há uns anos atrás), ou Putain de Guerre.
Mas Foi Assim a Guerra das Trincheiras é, de longe, a mais popular e aclamada obra de Tardi. Homenagem ao seu avô, que lutou na Primeira Guerra Mundial, as histórias que a compõem começaram a ser publicadas na revista (A Suivre), a partir de 1982, e tiveram uma primeira edição em álbum sob o título de Le Trou d’Obus, em 1984 (que não incluía muitas das histórias deste volume, que ainda não tinham sido desenhadas). A primeira edição de C’Était la Guerre des Tranchées foi em 1994 e conheceu imediatamente um êxito crítico e comercial. A actual edição da Levoir/Público segue a mais recente edição integral da Casterman, lançada em 2014 por ocasião do Centenário do início da Grande Guerra, que inclui um caderno de mais de uma trintena de páginas, de esboços, ilustrações várias, posters que o autor realizou para eventos e exposições, estudos para capas, etc… da qual apenas foram retiradas três páginas de ilustrações na versão portuguesa, por serem a cores (bem como a filmografia e bibliografia sugeridas pelo autor).
Foi Assim a Guerra das Trincheiras não perdeu nenhuma da sua dolorosa acuidade desde o dia que foi lançado pela primeira vez, e continua a ser uma das obras de banda desenhada mais poderosas consagradas à Primeira Guerra Mundial. A versão americana do livro, publicada em 2011, venceu dois Prémios Eisner, como Melhor Obra inspirada na Realidade, e Melhor Álbum Estrangeiro. Jacques Tardi é também um dos galardoados com o Grande Prémio da Cidade de Angoulême, em 1985.
“Foi Assim a Guerra das Trincheiras não é o trabalho de um “historiador”… Não se trata de uma história da Primeira Guerra Mundial em banda desenhada, mas de uma sucessão de situações em ordem não-cronológica, vividas por homens que foram manipulados e arrastados para ela, visivelmente nada contentes de se encontrar onde estão, e que a coisa que mais querem no mundo é regressar a casa… ou seja, que a guerra acabe! Não há heróis, não há “personagem principal” nesta lamentável “aventura” colectiva que é a guerra. Só há um imenso e anónimo grito de agonia”.
Jacques Tardi, por ocasião do lançamento da primeira versão do álbum
“Estando ferozmente comprometido com a minha liberdade de pensamento e de criação, nada quero receber, nem do poder actual, nem de qualquer outro poder, qualquer que seja. É por isso com a maior firmeza que recuso esta medalha. Não é obrigatório ficarmos contentes por sermos reconhecidos por gente que não estimamos.”
– Tardi, na ocasião em que recusou a medalha de Cavaleiro da Legião de Honra, atribuída pelo Estado francês.
Os leitores poderão ver uma pequena reportagem sobre o lançamento de Foi Assim a Guerra das Trincheiras, que inclui uma entrevista com o autor em:
http://www.ina.fr/video/CAB93071928 (em francês)
E uma entrevista com Tardi em:
Tardi: “j’utilise la violence pour dénoncer le carnage”
http://focus.levif.be/culture/livres-bd/
Foi assim a guerra das trincheiras
Tardi
Levoir/Público
152 págs., preto e branco
cartonado, 9,90 €
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Co-criador e administrador do Central Comics desde 2001. É também legendador e paginador de banda desenhada, e ocasionalmente argumentista.