Central Comics

Banda Desenhada, Cinema, Animação, TV, Videojogos

Análise BD: O Alquimista

Será que a Banda Desenhada também pode ser lida como autoajuda? E se for em Mangá, será que ainda ajuda mais? Leiam aqui a análise do livro O Alquimista – Novela Gráfica.

Há livros bem conhecidos na língua portuguesa, e um deles é O Alquimista de Paulo Coelho.

Originalmente lançado em 1988, foi traduzido para 88 idiomas e publicado em 170 países, registando vendas globais de mais de 90 milhões de cópias.

O livro conta uma viagem iniciática de um jovem pastor, mas na verdade tem como objetivo uma reflexão profunda do próprio leitor, para o ajudar a meditar sobre várias questões pessoais.

O que o autor pretende nesta obra é que o leitor, tal como o protagonista, descubra o tesouro que se esconde no seu interior, e que será mais valioso do que ouro. Mas para isso tem de saber qual o seu verdadeiro objetivo, a que se dá o nome de Lenda Pessoal. E assim surge a frase central da obra: “Quando uma pessoa realmente deseja alguma coisa, todo o universo conspira para ajudar essa pessoa a realizar o seu sonho”.

É um livro introspetivo e quase de auto-ajuda, e poder-se-ia dizer que é uma espécie de continuação de “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exapéry, também este mundialmente conhecido.

Este tipo de livros são sempre uma boa base para adaptações a BD. E a primeira de O Alquimista surgiu em 1992. Nessa altura, uma adaptação feita por Ota, foi desenhada pelo artista brasileiro Alexandre Jubran, num estilo realista muito próprio para a época, mas com um sucesso muito relativo. Mais tarde este autor viria a trabalhar para vários estúdios americanos.

Em 1995 foi produzida não uma BD, mas uma versão ilustrada do romance, com desenhos de Moebius. Segundo parece, Paulo Coelho não autorizou que fosse feita uma novela gráfica pelo autor francês. Preferia apenas uma versão com belas ilustrações. Um belíssimo livro, que viria a ser editado em Portugal em 1996.

De Moebius disse Paulo Coelho: “De certa forma, o meu trabalho reflete o que me ensinaram os grandes que abriram as portas à imaginação. Entre eles, Moebius ocupa um lugar muito privilegiado. Sinto que partilhamos o prazer de mergulhar no fundo da Alma do Mundo. Alguns homens acreditam que os sonhos podem transformar o mundo; para eles, os caminhos da magia e da realidade nunca param de se cruzar.”

Sobre esta mesma obra, a palavra a Moebius: “Primeiro trouxeram-me o manuscrito. Percorri-o, lançando a rede até às nuvens, mantendo esta, rejeitando aquela. A pesca foi boa. As linhas e as cores estremeceram, prontas para se fixarem no papel, impacientes por se inserirem no tecido vivo da história. Finalmente, cumpri o meu papel, realizei a minha pescaria, travei as minhas pequenas batalhas…”

Porém, em 2010 é finalmente lançada a Novela Gráfica de O Alquimista. Com adaptação do americano Derek Ruiz e desenhos do espanhol Daniel Sempere, que também trabalhou na DC Comics, é publicado um livro de 200 páginas com desenhos no estilo Comic americano.

O próprio Paulo Coelho orientou todo o projeto e processo criativo, incluindo o desenho das personagens e, na sua opinião, o resultado ultrapassou as suas expectativas. Mas aparentemente ficou-se pela edição americana.

Eis que surge agora a versão Mangá. É uma versão leve, uma viagem apressada com pequenos apontamentos de humor e desenhos bem no estilo Mangá e talvez por todos esses motivos, perde-se parte da magia da mensagem do livro original. A velha bruxa que interpreta sonhos, surge aqui como uma jovem e sedutora cigana, e o protagonista pastor andaluz é um jovem bem-parecido que vai espalhar charme ao longo da viagem, a começar pela capa do livro. Aliás, todos os personagens rejuvenesceram vários anos…

A ficha inicial não indica quem são os artistas chineses responsáveis por esta adaptação, e assim ficamos sem saber se a mesma é obra de um único artista, duma equipa de criadores ou de um programa de Inteligência Artificial. Acerca da misteriosa Artword Lab, nada se consegue descobrir…

Porém o próprio Paulo Coelho achou a obra “magnífica” e a melhor versão até ao momento, e por isso várias editoras compraram os direitos para publicar. Como disse Coelho: “Uma obra atinge um certo número de pessoas e não progride, mas a versão Mangá é capaz de atingir outros públicos”

É um livro com formato e arte de estilo Mangá. Porém, é lido na nossa forma ocidental e não ao contrário como os livros de Mangá. Talvez para agradar a um maior leque de leitores…

Como curiosidade, diga-se que a edição francesa tem um formato ligeiramente maior que a edição portuguesa, sem qualquer efeito prático no disfruto do mesmo.

Livro com uma grande dinâmica de leitura, como é natural neste tipo de livros, com variações a nível da distribuição das vinhetas, de forma a manter um interesse constante ao longo de todo o livro, e provocar uma leitura contínua.

Livro em capa mole com boa encadernação, com páginas em papel baço de boa qualidade e com boa impressão. Boa legibilidade dos balões. Preço acima da média para o tipo de livro.

Tempo de leitura:

  • O Alquimista – aproximadamente 30 minutos

Eis um livro que pretende fazer a ponte entre vários tipos de públicos e de gerações. A obra escolhida e a forma como está apresentada vai de certeza agradar a vários leitores de várias idades, criando uma cumplicidade de descoberta entre gerações. Esta é uma boa forma de dar a conhecer a obra de Paulo Coelho aos jovens.

Paulo Coelho, Artword Lab
Editora: Bertrand Editora

Livro em capa mole com 176 páginas a preto e branco nas dimensões de 18 x 25,5 cm
PVP: 19,90 €

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Verified by MonsterInsights