Análise: Sambre VII-VIII: Flor da Calçada / Aquela que os meus olhos não vêem…
Em agosto, foi lançado o mais recente álbum da conhecida saga trágica de Yslaire, Sambre, que assim alcança os lançamentos no seu país de origem.
Neste álbum duplo, o quarto tomo lançado em Portugal pela Arte de Autor, estão reunidos Flor da Calçada (VII) e Aquela que os meus olhos não vêem… (VIII).
Neste volume, vemos o crescimento de Judith e descobrimos como foi a sua vida num orfanato parisiense até ser adotada por um casal burguês, os Belgrand. No entanto, ela acaba por fugir com os seus amigos limpadores de chaminés, Giuseppe e Kazimir Rujdyev. Certo dia, Judith é agredida por um lojista, e após essa tragédia, um dos seus olhos fica vermelho, uma marca trágica e significativa na história da família Sambre.
Depois de casar com Kazimir, Judith torna-se uma das principais atrações de um bordel de luxo. O seu sonho de ascender na sociedade e tornar-se uma atriz rica e admirada está ao seu alcance. Mas será que conseguirá? Armand Dufour, um jovem burguês apaixonado por ela, pode ser a chave para essa mudança que Judith tanto procura.
Por outro lado, temos Bernard-Marie, o seu irmão gémeo, um jovem sensível e artista, fascinado pela fotografia e pelas borboletas, que usa como símbolos da beleza efémera e da sua busca por sentido no meio da decadência. Bernard-Marie é atormentado por uma profunda melancolia, seguindo a tradição dos heróis trágicos românticos, preso entre o destino fatídico da sua linhagem e o desejo de amor e liberdade. Ele envolve-se em amores impossíveis, sendo a sua relação com Judith central para o desenrolar da história de ambos.
Os dois são herdeiros de uma linhagem amaldiçoada, marcada pelos olhos vermelhos, símbolo de uma antiga maldição familiar. A vida deles é dominada por uma busca incessante pelo amor, envolta em melancolia.
Este ciclo estava inicialmente previsto para terminar no volume 8, mas parece que Yslaire precisou de mais algumas páginas para preparar o confronto final entre os irmãos órfãos, que já se adivinha iminente. Por isso, haverá um volume 9, possivelmente com mais páginas, que se espera ser trágico e violento.
Em termos de arte, é inegável que o estilo visual de Yslaire é uma verdadeira obra-prima. Os desenhos são detalhados e carregados de emoção, elevando a intensidade da história. O uso das cores e dos elementos simbólicos, como as borboletas, reforça a melancolia da narrativa. As cenas no bordel, onde Judith trabalha, são visualmente impactantes e transmitem uma tensão palpável.
É de destacar as páginas iniciais de cada álbum, com as suas margens pretas, o que faz pensar porque é que este design magnífico não foi utilizado ao longo de todo o livro. Além disso, a montagem próxima do final da primeira parte, com os desenhos a ocuparem toda a página sem margens, cria um impacto assombroso.
Contudo, a relação entre os irmãos Judith e Bernard-Marie parece carecer de algo que a torne mais especial, como acontecia nos primeiros volumes da série. Além disso, Judith, não tem aquela sensibilidade que os outros membros da família possuem e tem diálogos e cenas que fogem um pouco à essência romântica das personagens.
No geral, Sambre continua a ser uma grande obra no mundo da banda desenhada, com uma forte influência visual e narrativa. No entanto, parece que a história tem vindo a perder um pouco do fôlego e do romantismo que marcou os primeiros volumes, tornando-se mais uma exploração da tragédia e da decadência humana.
Classificação: 7,5/10
Informações Técnicas do Álbum
- Argumento e Desenho: Yslaire
- Edição: Cartonada
- Número de Páginas: 144
- Impressão: Cores
- Formato: 235 x 310 mm
- Editor: Arte de Autor
- ISBN: 978-989-9094-46-8
- PVP: 31.50€
Dário é um fã de cultura pop em geral mas de banda desenhada e cinema em particular. Orgulha-se de não se ter rendido (ainda) às redes sociais.