Guerra em Israel: Produções para entender o conflito entre israelenses e palestinianos
A divisão territorial arbitrária promovida no Oriente Médio pelos colonizadores europeus, no início do século XX, gerou diversos problemas de origem geopolítica que perduram até hoje.
Quando ingleses e franceses subdividiram a área do extinto Império Turco-otomano em Estados nacionais, não consideraram a diversidade de grupos étnicos que habitavam esses territórios. Preocuparam-se apenas com os próprios interesses económicos nessa parte da Ásia, da mesma forma que ocorrera durante a Partilha da África entre 1885 e 1914.
Tal facto desencadeou, durante décadas, várias guerras e tensões diplomáticas entre países do Oriente Médio, principalmente em razão de disputas territoriais e de fronteiras, muitas das quais ainda não foram resolvidas.
Entre os conflitos atuais, o que provavelmente tem causado maior repercussão e apreensão em todo o mundo é o conflito entre israelitas e palestinianos. Tais conflitos têm origens históricas e são causados por disputa e posse dos territórios ocupados por esses dois povos.
Para compreender essa disputa histórica, o Central Comics escolheu sete produções que oferecem insights sobre o conflito entre israelenses e palestinianos.
A questão israelense
No início do século XX, milhares de judeus que viviam noutras regiões do mundo passaram a migrar para a Palestina, onde fundaram bairros judaicos nas cidades e colónias agrícolas da zona rural. Ameaçados pelo afluxo de judeus os palestinianos opuseram-se a esses migrantes que reivindicavam parte do território palestino.
Por conseguinte, no final da década de 1940, a pressão exercida pela comunidade judaica internacional, com o apoio do Estados Unidos, levou a ONU a instalar o Estado de Israel, usando, para isso, parte do território palestino. Esse facto acirrou ainda mais os conflitos entre os dois povos, resultando na Guerra árabe-israelense de 1948.
Resposta palestina
Na década de 1960, os palestinianos criaram a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), com o objetivo de conquistar a independência de seu país, combatendo o governo israelense, sobretudo por meio de atentados terroristas.
Nesse quadro, a criação do Estado de Israel também gerou conflitos com países vizinhos, como Egito, Síria, Jordânia, que tiveram, desde então, áreas de seus territórios invadidos por força militares israelitas.
Resultado
Em decorrência desses eventos, em meio a várias disputas territoriais, a Guerra dos Seis Dias eclodiu em 1967, atenuando ainda mais o panorama na região. Após emergir vitorioso, Israel ocupou militarmente a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, anteriormente sob controle da Jordânia, assim como a Faixa de Gaza, que estava sob administração egípcia. Durante esse período, aproximadamente 500 mil palestinianos foram deslocados, buscando refúgio em outras regiões.
A partir desse momento, em meio a uma sucessão de conflitos persistentes, o país anexou Jerusalém Oriental, uma região que abriga locais sagrados reverenciados por seguidores das religiões cristã, judaica e muçulmana. Além disso, manteve a ocupação da Cisjordânia, apesar de ter se retirado da Faixa de Gaza em 2005, a qual, desde 2007, está sob controle do movimento islâmico Hamas.
Hamas
O Hamas representa atualmente a principal organização islâmica nos territórios palestinianos, sendo designado como grupo terrorista por Israel, Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e outras potências mundiais. Essa classificação resultou em imposição de restrições financeiras e diplomáticas sobre o grupo.
O grupo integra uma coalizão regional composta pelo Irão, Síria e o grupo islâmico xiita Hezbollah no Líbano, manifestando uma oposição à política norte-americana no Oriente Médio e em relação a Israel. Na sua carta de fundação, a organização islâmica delineou dois principais objetivos: promover a resistência armada contra Israel e implementar programas de assistência social.
Investida do Hamas
Na manhã do último sábado, dia 7, conforme o horário local, o grupo realizou um ataque surpresa, lançando bombardeios em Israel. Este evento já é considerado umas maiores investidas sofridas pelo país nos últimos anos.
https://www.youtube.com/watch?v=PGe2ZBwDV7E
Segundo a imprensa internacional, ao assumir a responsabilidade pela ofensiva, o Hamas declarou que esse é o início de uma extensa operação visando a recuperação do território.
É vital destacar a recorrência dos conflitos entre Israel e o Hamas, evidenciados por históricos de ofensivas nos anos de 2008, 2009, 2012, 2014, 2018 e 2019. Além disso, em 2021, um confronto em Jerusalém Oriental estendeu-se por 11 dias.
A diferença entre os terroristas e os palestinianos
No contexto da disputa geopolítica que envolve Israel e a Palestina, é crucial compreender as diferenças entre os membros do Hamas e os palestinianos que pleiteiam a soberania sobre as regiões ocupadas por Israel.
Em resumo, o Hamas é um grupo terrorista que exerce controoe sobre a Faixa de Gaza, uma região habitada por cerca de 2 milhões de palestinianos. Esse grupo radical busca ativamente a eliminação do Estado de Israel.
Em contrapartida, os palestinianos representam uma comunidade internacional que busca a criação de um Estado palestino, com o objetivo de coexistir pacificamente com Israel. Após o estabelecimento do Estado de Israel, muitos palestinianos dispersaram-se para territórios adjacentes, como a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.
Confira a seleção
“Zohan: Um Agente Bom de Corte” (2008), de Dennis Dugan
Apesar de ser uma comédia, através da sátira, Adam Sandler, Robert Smigel e Judd Apatow conseguem ilustrar as complexas relações socioculturais e políticas entre palestinianos e israelitas, explorando como essa dinâmica influencia a vida íntima e o cotidiano das pessoas que residem na região. O filme também aborda temas como choque cultural, estereótipos e aceitação.
Na trama, Zohan, interpretado por Sandler, é um agente contra-terrorista altamente treinado das Forças de Defesa de Israel que finge a sua própria morte para realizar seu sonho de se tornar cabeleireiro nos Estados Unidos. Ele escolhe Nova Iorque como seu destino e adota a identidade de “Scrappy Coco”.
O enredo gira em torno das situações cómicas que surgem quando ele tenta se ajustar à sua nova vida como cabeleireiro enquanto ainda é perseguido pelo seu passado e pelo seu arqui-inimigo, Fatoush “Phantom” Hakbarah (John Turturro), um terrorista palestino.
“Munique” (2005), de Steven Spielberg
O filme retrata a missão secreta do governo de Israel em buscar retaliação contra onze indivíduos ao redor do mundo, em resposta ao assassinato de atletas israelenses por terroristas palestinianos durante os Jogos Olímpicos de Munique.
Nesse contexto, Spielberg evidencia de forma explícita como o Estado de Israel, em sua busca de vingança, acaba perpetrando atos terroristas semelhantes aos de seus adversários. Essa ironia é enfatizada pela sequência que entrelaça imagens de atletas e terroristas, todos destinados a serem vítimas de algum ataque ao longo da narrativa.
“Budrus” (2009), de Julia Bacha
O filme destaca a intensidade da luta pela libertação da Palestina e pela paz no Oriente Médio. “Budrus” narra a história de Ayed Morrar, um organizador de base palestino que conseguiu unir membros do Fatah, do Hamas e apoiadores israelenses em um movimento desarmado para proteger sua aldeia da construção do Muro de Separação de Israel. Essa batalha, que se tornou um símbolo de resistência, alcançou a vitória em 2003.
“Lemon Tree” (2008), de Eran Riklis e Ira Riklis
Na trama, Salma Zidane é uma viúva palestina modesta que subsiste com os ganhos provenientes do seu pomar de limoeiros na Cisjordânia ocupada. Quando o Ministro da Defesa de Israel se torna seu vizinho, os Serviços Secretos Israelenses ordenam o corte das árvores por razões de segurança. A estoica Salma busca ajuda da Autoridade Palestina (que se revela ineficaz), do Exército Israelense (que se mostra indiferente) e de um jovem advogado palestino, Ziad Daud, que se envolve no caso. Nesta alegoria, será que David terá alguma chance contra Golias?
O argumento de Suha Arraf foi inspirado num caso amplamente divulgado em Israel: o de uma família palestina que buscou impedir, nos tribunais, a expropriação das suas terras agrícolas para a construção do Muro na Cisjordânia. Apesar de uma receção morna do público israelense, o filme recebeu críticas positivas tanto em Israel quanto nos países estrangeiros por onde passou.
Valsa com Bashir (2009), de Ari Folman
A produção é fundamentada nas memórias do autor e realizador Ari Folman. Trata-se de uma espécie de catarse em que Folman busca superar a sua amnésia, involuntária ou não, em relação aos eventos traumáticos vivenciados durante a Guerra do Líbano em 1982, quando atuou como soldado invasor.
A narrativa se desenha como uma extensa colcha de retalhos de lembranças, reunidas entre os camaradas do exército israelense, gradualmente auxiliando na reconstrução de sua memória. Apresentado em formato de documentário e animação, o filme mantém seu caráter instigante desde o princípio até o desfecho perturbador, destacando os massacres nos campos de refugiados palestinianos de Sabra e Chatila.
“Uma Garrafa no Mar de Gaza” (2010), de Thierry Binisti
Baseado na obra homónima da francesa Valérie Zenatti, a história aborda a amizade entre uma israelense, Tal, e um palestino, Naim, que evolui para um romance à distância. O relacionamento dos dois tem início com Tal enviando uma garrafa para a Faixa de Gaza e recebendo, em troca, um e-mail. Contudo, nas fronteiras, o espaço para o amor é escasso.
“Paradise Now” (2005), de Hany Abu-Assad
A obra de Abu-Assad é uma imersão envolvente e provocadora nas condições concretas que impulsionam a formação dos homens-bomba árabes encarregados de realizar operações suicidas em território israelense, uma ação frequentemente utilizada pelos governos de Tel-Aviv como justificativa para retaliações.
O filme oferece uma visão da ausência de esperança em soluções pacíficas, uma realidade que afeta parte da população palestina.
Referência bibliográfica:
BOLIGIAN, L. et al. Geografia espaço e vivência – 8º ano. 5. Ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
Brasileiro, Tenório é jornalista, assessor de imprensa, correspondente freelancer, professor, poeta e ativista político. Nomeado seis vezes ao prémio Ibest e ao prémio Gandhi de Comunicação, iniciou sua carreira no jornalismo ainda durante a graduação em Geografia na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), escrevendo colunas sobre cinema para sites, jornais, revistas e portais do Nordeste e Sudeste do Brasil.