Cinema: Crítica – Oppenheimer
Nesta mais recente obra, Christopher Nolan conta-nos a história de como J. Robert Oppenheimer se tornou a morte, destruidor de mundos.
Não há nada a apontar a Cillian Murphy. No seu extenso reportório como ator mostrou-nos vezes sem conta o seu domínio do exercício. Em Oppenheimer vemos aquele que pode vir a ser o “seminal”, o mais presente exemplo da sua qualidade como artista, a sua franqueza e devoção ao papel.
A parte chata dos Biopics são os atores mesmo, conceituados como tendem a ser, fica difícil afastar identidades das interpretações oferecidas. Compreendo que é um problema que se repete no cinema em geral, mas é quando se interpreta quem viveu que a coisa complica. Não é o caso, durante as imponentes três horas da metragem perdemos Murphy e a maioria do restante elenco para as suas personagens, os restantes, perdem-se no seu estrelato e falta de foco.
Embora encarne bem Lewis Strauss, Downey Jr é instantaneamente reconhecível, Ehrenreich sofre o mesmo, nem todos podem ser Gary Oldman.
Mesmo assim, estão lá todos a fazer um excelente trabalho, a serviço duma narrativa interessante, embora assombrada por um par de decisões patetas. Não digo más, mas talvez demasiado artísticas para o meu nariz admitidamente pouco empinado. Algumas quase resultaram em gargalhadas no visionamento, e se eu tradicionalmente já me sinto um estrangeiro no mundo da imprensa cinéfila, era desta que faziam de mim Maria Antonieta.
Entre toda a arte de Nolan(e de frisar que isto É cinema de autor, e isto VAI ser estudado em salas de aulas, como estudámos Memento há uma década atrás), há algumas decisões que podem até ser defendidas como artísticas, mas que não consigo aceitar.
Este filme está desfocado.
Não é uma das minhas tradicionais analogias, não é uma narrativa excessivamente complexa, é mesmo um assistente de câmara a dormir. Pode ou não ter sido instruído a fazê-lo, mas caramba!
Gravado em IMAX, os planos de pormenor da cara dos atores, claustrofóbicos e medidos ao milímetro, não PODEM estar desfocados. Talvez Oppenheimer fosse míope, talvez isso justifique, mas eu devia estar a contar os poros dos narizes e das bochechas, mas ando a contar pelos das orelhas aos personagens. Não é constante, mas assim que se lhe apanha a marosca isto distrai imenso.
É uma pena, uma grande pena, porque com fotografia focada isto tinha sido um 10/10, tinha uma eventual razia aos Óscares digna e merecida. Como está, quem lhe der melhor fotografia é senil… Uma piada fácil às custas da academia, eu sei, mas estou chateado e isto alegra-me.
Tudo o resto? Impecável. É muita bom, é giro, ainda devo rever. Não é o auge de Nolan na minha pouco empinada opinião, mas afinal a magia da coisa é que todos as temos e são todas igualmente válidas.
Recomendo vivamente a visita, caríssimos. Mesmo com os seus defeitos, Oppenheimer vale a pena e promete virar incontornável nesta brincadeira do cinema.
Classificação: 9/10
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!