Análise jogos: The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
Jogo do ano ou flop do século? The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom foi à lupa do Central Comics — o resultado foi épico!
Sinopse de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
The Legend of Zedla: Tears of the Kingdom (TOTK) é a sequela de The Legend of Zelda: Breath of the Wild (BOTW) e o mais recente capítulo da icónica saga da Nintendo. Alguns anos após as aventuras vividas em BOTW, Link e a princesa Zelda decidem explorar as profundezas do Castelo de Hyrule em busca de uma explicação para uma misteriosa substância vermelha que tem espalhado uma doença entre exploradores desde que começou a brotar do solo. Durante a sua busca, deparam-se com a múmia de um antigo rei demónio, Ganondorf, que fere gravemente Link, destrói a gruta em que se encontram e volta a separar os dois. No papel de Link, acordamos perante o fantasma do primeiro Rei de Hyrule, Rauru, que nos salvou e aconselha a procurar a princesa para salvar o reino.
De regresso à superfície, damos conta de que todo o mapa foi alterado devido a um evento cataclísmico que originou buracos subterrâneos repletos da horrível substância vermelha e de monstros desconhecidos, assim como ilhas flutuantes. Com o mundo inteiro assolado por terríveis catástrofes, a nossa missão adivinha-se tudo, menos fácil.
Pré-análise de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
Como assim, «pré»? Pois é! Sei que adoram ler — especialmente os artigos do Central Comics — e que tempo não vos falta, mas permitam-me que faça aqui um pequeno resumo do que desenvolvo mais abaixo para quem, como eu, tem um índice de concentração equivalente ao de um hamster e é incapaz de ler mais que o texto contido num autocolante de uma banana.
Nunca tinha jogado a qualquer título de Zelda e desconhecia (quase) totalmente a saga. Sim, a sério! De modo que a premissa do Central Comics para esta análise foi simples: TOTK rebentou a escala nas análises de praticamente toda a gente, mas todas estas pessoas têm, quase invariavelmente, uma coisa em comum: são fãs da saga e notoriamente parciais nas suas críticas. Será que se metermos alguém que nunca pegou no tipo de orelhas bicudas a fazer a análise sai alguma coisa diferente, como amiúde acontece?
Bom… não tenho quaisquer problemas em dar notas negativas a jogos, mas, neste caso, juntei-me ao comboio de elogios a TOTK e é também sem qualquer problema que vos escrevo que este é o melhor jogo que alguma vez joguei para a Switch! História, diálogos, gráficos, design do mundo, som, música e, para mim, mais importante que tudo, jogabilidade: excelente, excecional, espetacular, extraordinário e vários outros adjetivos começados em «eis» que me levam a enaltecer TOTK com um convicto «Eish!». Em 10 valores, dou 9,5 a The Legend of Zedla: Tears of the Kingdom.
Análise de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
TLDR
Agora sim, a análise propriamente dita. Usei o termo «épico» no parágrafo de introdução de forma intencional, já que se encaixa na perfeição à descrição de TOTK. Uma análise a um título desta dimensão é inevitavelmente extensa, já que qualquer descrição séria do jogo tem potencial para fazer a descrição do Ramalhete parecer um haiku. Portanto, pessoal, sentem-se e acondicionem o rabinho confortavelmente, já que esta vai ser mais longa que o habitual.
Certamente notaram que esta análise chega um bocadinho tarde à festa. A razão é simples: inicialmente, o plano do Central Comics era que o António Moura testasse o jogo e escrevesse a análise. Porém, na véspera do lançamento do jogo, o António escreveu-me a pedir que a escrevesse eu, já que ele é um enorme fã da saga Zelda, tinha medo de não conseguir ser imparcial, e o que seria realmente interessante era que alguém que desconhecesse o universo de Zelda desse a sua opinião acerca de TOTK. Esta foi a última vez que alguém falou com o António, que foi visto pela última vez a levantar a sua edição de colecionador de TOTK e a ir para casa. Correm rumores de que ainda não desligou a Switch desde que instalou o jogo, tendo-se submetido a um processo evolutivo para se conseguir alimentar por fotossíntese, absorvendo a luz emitida pela TV, e dormir ao fechar um olho de cada vez.
Armei-me ali um bocadinho em Galadriel e hesitei em aceitar esta responsabilidade, visto estarmos a falar de um dos, se não o, jogo do ano. Mas lá cedi à minha inevitável condição de Frodo e, como estamos a falar de uma sequela e de um universo com toneladas de lore, decidi recorrer à ajuda de um autêntico Sam para me ajudar nesta jornada, a minha irmã Magda, também ela uma megafã de Zelda e que contribuiu muito para este artigo ao orientar-me num mundo novo para mim. Ainda estou a tentar decidir se isto foi boa ideia, ou não, já que ela continua a ligar-me para me dar informações do estilo: «Cheguei a dizer-te que, em BOTW, Lurelin estava completamente diferente? Havia o Sebasto, o Rozel…», altura em que a tenho de interromper com «Madga, são 4h30 da manhã!»
História de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
Há histórias que não pegam nem com supercola, mas há outras perduram na memória. A história de TOTK encaixa-se na segunda categoria. Embora estejamos a falar de uma sequela, a narrativa deste título aguenta-se por si só e o jogo pode ser jogado como standalone. Porém, não tardei a chegar à conclusão de que o universo de Zelda encerra um lore muito mais amplo que pode acrescentar bastante à experiência.
No início do jogo, somos imediatamente confrontados com uma premissa que, não sendo exatamente original numa sequela — equilíbrio alcançado no primeiro capítulo enfrenta uma ameaça, a ameaça é personificada num vilão, o herói tem de enfrentar uma miríade de perigos para reestabelecer o equilíbrio — foi montada e é-nos apresentada de uma forma tão sublime que nos estimula a curiosidade o suficiente para querermos insistir na resolução do mistério e na busca por uma resolução.
Além disto, existem também side quests suficientes para criar um canal de YouTube com 1 milhão de horas de conteúdo exclusivamente dedicado a estas pequenas missões secundárias. Não procurei, mas certamente já existe. Side quests não têm nada de novo em jogos open world, a diferença é que, em TOTK, também estes são extremamente cativantes, criativos e diversificados, com personagens muito interessantes, como, por exemplo, uma certa jornalista que nos mergulha numa investigação superinteressante ou uma missão em que vamos aprendendo mais acerca do mundo que nos rodeia enquanto ajudamos alunos com as suas lições. Por falar em personagens, foi-me dito por quem sabe (numa dessas chamadas madrugadoras) que se pode fazer a crítica de que os personagens de BOTW não se lembram de nós em TOTK. Um pequeno lapso.
Os diálogos não vão ganhar nenhum prémio Tony, mas são interessantes e cumprem o propósito.
Existem ainda cut scenes colocadas com mestria para complementar a forma como a história é contada.
Jogabilidade
Se me tivessem contado sobre a quantidade de diferentes mecânicas que TOTK se propõe a ter, teria comentado com total convicção: «Isso vai dar barraca, de certezinha absoluta». Mas não! Pelo contrário, o que a Nintendo conseguiu é notável e não me consigo lembrar de um jogo deste género que inclua tantas coisas para fazer, de tantas formas diferentes, tão bem implementadas.
Desde o combate divertido e da navegação intuitiva, passando pelo sistema de construção de armas e veículos, até aos puzzles que atingem um equilíbrio ideal entre dificuldade e recompensa, TOTK parece ter sido desenvolvido por uma verdadeira equipa de gamers que sabem exatamente o que os seus pares querem, ao invés das cada vez mais comuns equipas de desenvolvimento que desencantam pérolas como: «Isto era giro era assinalarmos o caminho inteiro a percorrer, com cores diferentes, seja por que razão for, das paredes que têm de subir e para onde devem saltar». Enfim…
Em TOTK somos completamente livres para fazermos o que nos dá na real gana. Querem montar um míssil num calhau? É para já! E isto faz todo o sentido na mecânica de combate, já que diferentes inimigos têm diferentes vulnerabilidades a serem combatidas com diferentes armas. Por muito absurdo que pareça aquilo que estamos a fazer, acaba frequentemente por resultar — mas também pode correr hilariantemente mal! Nunca sabemos o que esperar se não experimentarmos. Uma delícia!
Não me vou alongar muito mais neste tópico e termino a secção apenas ao dizer que todas as vertentes da jogabilidade (combate, construção, saques, exploração, navegação, quebra-cabeças, criatividade, estratégia, etc.) são excelentes, mas o que me surpreendeu realmente foi a forma exímia como todas foram combinadas e como se complementam entre si. Genial!
Gráficos e som
Antes de avançar com mais elogios à Nintendo, para que não se pense que lhes estou a passar a mão pelo pelo, começo por uma crítica que, de resto, já adivinharam qual é por estarmos a falar de um jogo da Switch: desempenho. Preparem-se para uns quantos frame drops e para imagens pixelizadas a destoar do estilo geral. Mas também vos digo o seguinte: a minha experiência praticamente não foi afetada e estava à espera de muitíssimo mais! Um jogo desta dimensão e com esta qualidade de via ter bem mais problemas de desempenho numa consola tão humilde (no contexto atual), especialmente em transições profundamente radicais sem loading screens.
Retomando os louvores, os gráficos são de um nível superior. O vasto reino de Hyrule é incrivelmente bonito e bem apresentado. Palete de cores, saturação, arte e consistência não são apenas irrepreensíveis, são deslumbrantes.
Ainda assim, os compositores de TOTK alcançaram o impensável e conseguiram encontrar um nível acima para o design de som e para a música. A música e os efeitos sonoros conjugam-se na perfeição e imiscuem-se com uma fluidez impercetível no desenrolar do jogo. Cada situação, local, terreno e momento do jogo tem a sua própria banda sonora dentro do jogo que transmite as emoções pretendidas com primor. Se estamos a explorar tranquilamente, o jogo acompanha-nos com uma música relaxante e efeitos sonoros suaves, em combate ou em perigo, a música acelera e os sons intensificam-se, o mesmo para momentos de suspense, etc. O nível de atenção ao detalhe no design de som deste jogo é inédito e, sinceramente, não me consigo lembrar de nada que o supere.
Postas de pescada e um par de botas
Foi em boa hora que o António Moura decidiu abraçar uma vida de reclusão e passar-me o testemunho de fazer esta análise, já que me calhou aquele que, provavelmente, será o jogo do ano, pelo menos, para a Switch. Mas mesmo transversalmente a todas as consolas e até em para PC, TOTK elevou a fasquia a um nível que me parece difícil de bater.
Escrevi sobre diversos aspetos do jogo, e há muito mais para escrever e já escrito, mas o principal ponto que quero deixar claro relativamente à minha opinião acerca de TOTK é que estamos perante uma obra executada quase na perfeição, por uma equipa claramente competente e que trabalhou com afinco e carinho num projeto que me parece de paixão. É uma lufada de ar fresco na categoria AAA que tanto me tem desiludido nos últimos anos.
Não terminei o jogo (nem de perto), mas praticamente tudo o que vi foi extremamente positivo, à exceção de uma ou duas arestas por limar, que praticamente não tiveram impacto na minha experiência (cheguei a dizer que não encontrei um único bug?!?!).
+++
Dois aspetos: 1) cada componente (música, som, gráficos, história, jogabilidade, etc.) é excelente por si só, individualmente; 2) a conjugação de todos estes componentes entre si é levada a cabo de forma perfeita. Não consigo pensar como tudo isto poderia ser melhorado.
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Alguns pequenos detalhes, como o desempenho e a pixelização ocasional. Os personagens também poderiam ter um bocadinho de mais interação entre si.
Classificação: 9,5/10
Apostaria em TOTK para «limpar» quaisquer prémios nas categorias para as quais seja elegível, sem grandes dúvidas. Aparte de tudo o que mencionei acima, há ainda outro elogio que não deixei, mas que é imperativo referir: o jogo é mesmo muito divertido e viciante!
A Nintendo está a distribuir TOTK por 69,99 €. Sim, é carote e o preço é um campo em que costumo deixar críticas nas análises que faço. Contudo, também defendo que a qualidade se paga e, neste caso, não há dúvidas que a qualidade está lá. Além disso, tenhamos em conta o entretenimento proporcionado: como referi, não terminei a história principal do jogo, mas já li que andará entre as 70 e as 90 horas de conteúdo. Acrescentando a infinidade de side quests, passamos a falar de centenas de horas de conteúdo proporcionado. Pensem em quanto pagam pelo vosso serviço de televisão por cabo, ou por uma ida ao cinema. Agora, pensem em quantas horas vos proporcionou de entretenimento. Façam as contas.
Para terminar, fica a dica indispensável: às vezes, as ideias mais parvas são aquelas que produzem melhores resultados — não tenham medo de experimentar tudo o que vos vier à cabeça.
Coautoria do artigo: Magda Fachada
Plataforma testada: Nintendo Switch
Trailer de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom:
Gamer inveterado que não dispensa uma boa série e nunca diz ‘não’ a uma sessão de cinema… Com pipocas, se faz favor!