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“Astérix – O Íris Branco” é o novo livro do gaulês

Chegou a primavera, tempo de primeiras flores mas, sobretudo, tempo de revelar o título do 40º álbum de Astérix: O Íris Branco.

«Para iluminar a floresta, basta a floração de um só íris», pode ler-se na 40.ª aventura de Astérix e Obélix. Espera-se, sobretudo, que um sorriso venha de novo iluminar o rosto de Matasétix! Que terá acontecido ao nosso chefe gaulês preferido e qual a razão para este ar tão carrancudo?

«Deu-me muito gozo reencontrar os nossos amigos gauleses e desenhá-los em situações pouco habituais, perturbados pelos efeitos de um novo método de pensamento, o Íris Branco, vindo de Roma.»

— Didier Conrad

Didier Conrad

Didier Conrad
Foto © Christophe Guibbaud

Tal como Astérix, Didier Conrad nasceu em 1959. A sua primeira banda desenhada, Jason, é publicada em 1978. Lança-se depois, em parceria com Yann, na animação dos cabeçalhos da revista Spirou, criando mais tarde, ainda com o mesmo argumentista, a mítica série Les Innommables. Seguem‑se inúmeras produções repletas de humor, como Bob Marone (1980) e, com Wilbur, Le Piège Malais e Donito (entre 1991 e 1996). Em 1996 instala-se em Los Angeles para trabalhar na longa-metragem de animação O Caminho para El Dorado (2000, Dreamworks SKG). Desenha as aventuras gaulesas desde o álbum Astérix entre os Pictos (2013).

MATASÉTIX

Ser chefe, e filho do antigo chefe da aldeia, eis o que carateriza este homem, sobretudo quando se trata
de presidir aos destinos da única aldeia gaulesa capaz de resistir ainda e sempre às legiões romanas. Escudado por grandes guerreiros como Astérix e Obélix, poder-se-ia pensar que a tarefa de Matasétix é fácil. Desenganem-se!

O nosso líder – chefe «incontestável», embora por vezes contestado! – já teve de enfrentar mais do que uma vez várias provas, a concorrência e as recorrentes (quiçá demasiado recorrentes) quedas do escudo, isto para já não falar do azedume de algumas críticas que a sua esposa Boapinta lança ao seu «Bacorinho», quando por exemplo lhe põe os nervos em franja ao atirar-lhe à cara o sucesso do seu cunhado Homeopatix (que, diga-se de passagem, o trata por «Não-sei-quantos» em Os Louros de César, 1972)!

Enquanto aguarda a saída do álbum em 26 de outubro de 2023, Fabrice Caro, argumentista de O ÍRIS BRANCO, adianta alguns pormenores.

Fale-nos da génese deste 40.º álbum das aventuras de Astérix.

Eu queria um álbum muito centrado na aldeia e nas suas imediações. Gosto particularmente dos álbuns de Astérix em que um elemento externo se introduz na aldeia e vem perturbar o seu equilíbrio, e adoro observar a reação dos habitantes, com a sua lendária capacidade de dissimulação. E, depois, era a oportunidade de abordar implicitamente um fenómeno social contemporâneo…

foto © Christophe Guibbaud

Porquê este título?

O Íris Branco é o nome de uma nova escola de pensamento positivo, vinda de Roma, que começa a propagar-se pelas grandes cidades, de Roma a Lutécia. César decide que este novo método pode ter efeitos benéficos sobre os campos romanos em redor da famosa aldeia gaulesa. Mas os preceitos desta escola influenciam igualmente os habitantes da aldeia que com eles se cruzam… Aliás, a prancha-anúncio divulgada em dezembro já levantou um pouco o véu sobre o resultado dessa influência!

Eu queria encontrar um título que se enquadrasse no espírito de Goscinny e Uderzo, em que o tema é muitas vezes encarnado num objeto físico ou numa pessoa (O Caldeirão, O Adivinho, O Grande Fosso, O Escudo de Arverne, A Foice de Ouro…). Aqui, o íris é um símbolo de bondade e de plenitude, ou pelo menos assim se espera…

Matasétix, o famoso chefe gaulês, não parece muito feliz nesta imagem… O que é que se passa na aldeia?

Sim, é verdade. É preciso reconhecer que já o vimos em melhor forma. Este método positivo tem impacto sobre os nossos amigos gauleses e nem todos ficam satisfeitos. É o que acontece ao nosso chefe, que vai atravessar uma crise…

Fabcaro

Fabrice Caro, que também assina Fabcaro, é autor de banda desenhada e romancista. De entre a sua prolífica obra iniciada em 1996, podem citar-se Le Steak haché de Damoclès (2005), La Bredoute (2007) e On est pas là pour réussir (2012). O sucesso chega em 2015 com o álbum Zaï zaï zaï zaï. Em 2016, assina o argumento das novas aventuras de Gai-Luron, desenhadas por Pixel Vengeur (Fluide Glacial). Em 2018 é publicada uma outra obra muito notada, que mistura humor absurdo e sátira social: Moins qu’hier (plus que demain). O seu romance Le Discours (2018) foi adaptado ao cinema por Laurent Tirard em 2020. Em 2022 publica Guacamole vaudou, um romance fotográfico humorístico que conta com a participação do comediante excêntrico Éric Judor.

Capa provisória de Astérix - O Íris Branco
Capa provisória de Astérix – O Íris Branco

MATASÉTIX

Ser chefe, e filho do antigo chefe da aldeia, eis o que carateriza este homem, sobretudo quando se trata de presidir aos destinos da única aldeia gaulesa capaz de resistir ainda e sempre às legiões romanas. Escudado por grandes guerreiros como Astérix e Obélix, poder-se-ia pensar que a tarefa de Matasétix é fácil.

Desenganem-se! O nosso líder – chefe «incontestável», embora por vezes contestado! – já teve de enfrentar mais do que uma vez várias provas, a concorrência e as recorrentes (quiçá demasiado recorrentes) quedas do escudo, isto para já não falar do azedume de algumas críticas que a sua esposa Boapinta lança ao seu «Bacorinho», quando por exemplo lhe põe os nervos em franja ao atirar-lhe à cara o sucesso do seu cunhado Homeopatix (que, diga-se de passagem, o trata por «Não-sei-quantos» em Os Louros de César, 1972)!

Mas não nos esqueçamos daqueles momentos de bravura em que, vencendo um épico Combate dos Chefes (1966), enfrentando sem medo os Belgas (Astérix entre os Belgas, 1979) que se gabavam de serem os mais corajosos, defrontando a concorrência de Ortopédix (O Presente de César, 1974), ou resistindo a uma pavorosa cura em O Escudo de Arverne (1968), Matasétix nunca se furtou a defender a honra da sua aldeia, ou até mesma de toda a Gália. A personagem evolui ao longo dos álbuns e torna-se numa personagem política por direito próprio: ligeiramente narcisista, ávida de discursos intermináveis e colocando-se a si própria num pedestal.

O seu principal receio: que o céu lhe caia em cima da cabeça! Mas será isso motivo para um ar tão desnorteado? Ou o motivo terá a ver com o nosso famoso íris branco?

O ÍRIS BRANCO: UMA FLOR MUITO ESPECIAL

Por Laurence Gossart, Professora Doutora em Artes da Universidade de Paris / Panthéon-Sorbonne

Qual é a história do íris?

O íris é uma flor que apareceu no período Cretácico, isto é, há 80 milhões de anos. É uma pequena flor, a que a história conferiu grande valor. É antes de mais um dos símbolos egípcios, associado sobretudo a Hórus, o deus da alvorada e do crepúsculo.
Mas Íris é também uma divindade grega, benevolente mensageira dos deuses e favorita de Hera, pois é muitas vezes portadora de boas notícias. Íris, em grego antigo, significa o arco-íris, por onde a deusa se desloca quando vem à Terra. A flor é o reflexo do seu nome, encarnado assim a amplitude da paleta de cores.

Há inúmeras variedades de íris: íris-dos-pântanos (também conhecido como lírio-dos-pântanos), iris pallida, iris siberica, iris germanica e a sua subespécie iris florentina. Este último, de cor branca, é ao que tudo indica a flor que na Antiguidade se encontrava disseminada por todo o litoral da bacia mediterrânica, e de que Gregos e posteriormente Romanos fizeram uso recorrente. Mais tarde, no século VI, Clóvis, rei dos Francos, fez do íris o símbolo que hoje conhecemos sob o nome de flor-de-lis. Diz-se que, durante a guerra que travou com os Visigodos, um veado atravessou o rio Vienne, mostrando assim ao exército uma passagem entre as duas margens que aproveitava uma faixa de terreno estabilizado por rizomas de íris.

Como foi o íris utilizado por esses povos e qual o seu significado?

Iris
Sonho branco – extraído do conjunto Sonhos de uma Vida de Íris,
2019, 9,5 x 14 cm, lápis de grafite sobre papel esponjoso.
Desenho de Laurence Gossart.

Verdadeira planta mágica, o íris possui numerosas virtudes e assume simbologias diversas. É uma das plantas mais cobiçadas pelas suas propriedades terapêuticas, sendo utilizada em inúmeros remédios naturais. Na Grécia, esta flor adornava os túmulos em homenagem à deusa Íris, uma das missões da qual seria cortar os cabelos das mulheres quando estas morriam, antes de as guiar até à sua última morada.

Quanto aos Romanos, viam a representação das pétalas das flores como símbolos de sabedoria, fidelidade e bravura. Por essa razão, era comum plantar íris azuis e brancos nos templos dedicados a Juno. Deusa, mulher e flor, o íris é também, na poesia, a encarnação da mulher amada. Sinónimo de coragem e de fidelidade, esta flor é ainda portadora de sabedoria e conhecimento acrescidos. Representado o ardor, é igualmente símbolo de uma inteligência superior.

No que diz respeito ao íris branco, há que começar por assinalar que o arco-íris resulta da difração da luz branca e exibe uma explosão de cores. O íris branco é portanto, em si mesmo, a encarnação de uma ideia paradoxal: é simultaneamente as cores e a cor. Mas, na linguagem das flores, este aparente paradoxo esvai-se: diz-se, aliás, do íris, que ele é o prenúncio de um amor terno ou de uma união.

E o que têm a ver os nossos amigos gauleses com tudo isso?

Terão ficado inebriados com as fragrâncias emanadas dos campos de íris na primavera? Ter-se-ão banhado com as suas pétalas para se purificarem e afastarem os maus espíritos (prática habitual no Japão)? Terão mastigado os seus rizomas ou venerado o íris como os Gregos e os Romanos? É bem possível. O Mundo Romano, tal como a Gália, são territórios que o íris já ocupava muito antes dos seus habitantes… Portadora de boas notícias e de bondade, esta pequena flor iluminava vales e planícies com a sua sabedoria antes de adornar os templos ou ser usada em poções.

OS CRIADORES

Os CriadoresEstamos em 1959 d.C.
O argumentista René Goscinny e o desenhador Albert Uderzo estão sob grande pressão. Têm de criar uma série de BD baseada na cultura francesa que seja completamente original, para o primeiro número da revista Pilote que deverá sair dali a poucas semanas. No apartamento de Albert Uderzo, os dois autores dão voltas à cabeça numa sessão de brainstorming que haveria de ficar para a História:
– Diz-me lá os períodos mais marcantes da História de França – atira René.
– Bem, há o período da Pré-História… – alvitra Albert.
– Não, já foi utilizado – responde o amigo.
– E se fosse a Gália e os Gauleses?
René agarra imediatamente a deixa e as ideias começam a brotar em catadupa.
– Em duas horas, tudo ficou feito, decidido… – conta o argumentista.
Foi assim que começaram As Aventuras de Astérix, a 29 de outubro de 1959, no primeiro número da revista Pilote. Rapidamente toda a Gália foi ocupada pelos Romanos, pela poção mágica, pelos jogos de palavras e por sibilinas citações latinas. Toda? Sim, toda! Para grandes momentos de aventuras e gargalhadas!


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