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Do Vaticano ao poder: 7 thrillers políticos tão intrigantes quanto “Conclave”

Católico ou não, todos em algum momento já se questionaram: o que acontece quando um papa morre? Como é escolhido um novo? A resposta, à primeira vista, parece simples: realiza-se um conclave.

Mas o que é, na realidade, um conclave?

Trata-se de uma reunião secreta que ocorre após a morte ou renúncia de um papa, onde os cardeais se reúnem no Vaticano para escolher, em segredo, o novo líder da Igreja Católica Apostólica Romana.

Conclave

Todavia, o que se passa nos bastidores dessa eleição, regida por regras centenárias e inflexíveis? Durante o conclave, os 253 cardeais — 140 eleitores e 113 não eleitores — são isolados do mundo exterior, sem qualquer contacto com o exterior, até que escolham o novo papa. Para ser eleito, um cardeal necessita de dois terços dos votos, ou seja, 77 votos. O voto é secreto e os cardeais não podem abster-se nem votar em si mesmos.

São estes bastidores, com as tensões e alianças ocultas, que servem de pano de fundo para o thriller político “Conclave”, de Edward Berger, onde a política e as intrigas internas da Igreja ganham vida de forma hipnotizante.

Um dos grandes favoritos

O filme tem sido um dos grandes favoritos da temporada de prémios, com uma das atuações mais marcantes da carreira de Ralph Fiennes, nomeado para quase todos os prémios de melhor ator.

Não é só Fiennes que tem se destacado: o elenco secundário, composto por Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto, Isabella Rossellini, Lucian Msamati e Carlos Diez, também tem recebido elogios, reflectidos nas inúmeras nomeações para melhor elenco.

Baseado no livro homónimo de Robert Harris, publicado em 2016, o filme começa com a morte do Papa, vítima de uma doença grave. Com isso, o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é escolhido para coordenar o conclave, cerimónia onde os cardeais se reúnem para eleger o novo Papa.

Porém, à medida que a eleição avança, Lawrence depara-se com desafios inesperados, lidando com problemas envolvendo os candidatos, o que torna o processo ainda mais complexo. E, para complicar ainda mais as coisas, ele descobre um segredo devastador, que pode mudar a Igreja Católica para sempre.

Todos querem sentar-se à direita do Pai

Ao longo da intensa corrida pelo trono de São Pedro que impulsiona “Conclave”, somos apresentados a uma série de visões contrastantes que simultaneamente unem e dividem uma das instituições mais antigas e influentes do mundo.

O enredo conduz-nos por intrincadas estratégias de poder e alianças temporárias, enquanto diferentes facções da Igreja Católica procuram garantir a sua posição na sucessão papal.

Dito isto, os quatro principais candidatos são Aldo Bellini (Stanley Tucci), dos Estados Unidos, um reformista progressista alinhado com a visão do Papa; Joshua Adeyemi (Lucian Msamati), da Nigéria, um tradicionalista conservador; Joseph Tremblay (John Lithgow), do Canadá, um conservador moderado; e Goffredo Tedesco (Sergio Castellitto), da Itália, um ultraconservador reacionário.

O Cardeal Bellini, com a sua postura reformista, defende uma Igreja mais moderna e progressista, que se adapte às mudanças da sociedade contemporânea, embora a sua visão seja frequentemente desafiada pelos interesses de outros cardeais que preferem manter a ordem estabelecida. Bellini, com a sua habilidade diplomática, tenta reunir apoio para ser eleito, mas os seus ideais mais avançados são um obstáculo num mundo onde a tradição prevalece.

O Cardeal Tremblay, por outro lado, é movido por uma busca implacável pelo poder, porém com uma abordagem mais moderada e pragmática. A sua luta não é apenas por um título, mas pela oportunidade de moldar a Igreja de acordo com os seus próprios interesses pessoais, utilizando a política e as manipulações mais subtis para avançar a sua agenda. A todo o custo, pretende garantir que a sua visão de um pontificado focado no equilíbrio e na adaptação estratégica seja concretizada.

A figura do Cardeal Adeyemi, no entanto, é completamente movida pela ambição de se tornar papa, mas não pela fé ou vocação, e sim pelo estatuto que a posição pode proporcionar. Ele almeja o poder papal como uma forma de alcançar reconhecimento e prestígio, sem se preocupar com as implicações espirituais ou as mudanças que poderia causar dentro da Igreja.

E, por fim, temos o Cardeal Tedesco, que representa o lado mais conservador e rígido da Igreja. Com um carácter sarcástico e quase vil, Tedesco acredita que a Igreja deve permanecer fiel às suas raízes e tradições, resistindo a qualquer forma de modernização ou questionamento.

O seu ultraconservadorismo quase feudal reflecte um desejo de manter o status quo, mesmo que isso signifique combater todas as tentativas de reforma e progressismo que surgem à sua volta.

O que é um thriller político?

Como bem descrito num artigo publicado pelo Industrial Scripts, o thriller político é um subgénero do thriller que tem como pano de fundo uma disputa pelo poder político, colocando em evidência elevados riscos e suspense no cerne da narrativa. Este subgénero desafia o público a reflectir sobre a relevância da política e o impacto das decisões tomadas pelos detentores do poder.

As histórias deste tipo são marcadas por riscos extremos, em que frequentemente o destino de uma nação, ou até do mundo, repousa nas mãos de um único indivíduo. Temas recorrentes incluem corrupção política, crime organizado, terrorismo, guerras, cenários políticos nacionais e internacionais, além de eventos históricos significativos.

Os protagonistas destas narrativas são frequentemente indivíduos que lutam incansavelmente para proteger o seu país ou desafiar forças que ameaçam a segurança de uma população.

Assim, o thriller político cativa o público não apenas pela tensão que constrói, mas também pelo retrato de dilemas éticos e sociais que transcendem a ficção.

Este género oferece uma perspectiva dos “bastidores” que fascina os espectadores, desafiando-os a reflectir sobre o que aconteceria se aquele fosse o seu próprio mundo. Embora os temas e cenários abordados possam ser extremos, o público consegue identificar-se com eles, pois há sempre o risco de a política seguir um rumo ainda mais sombrio.

Afinal, a política afecta a todos.

Aproveitando o sucesso deste thriller envolvente, preparamos uma selecção com sete produções para quem deseja aprofundar-se neste subgénero.

“Guerra Civil” (2024), de Alex Garland

O longa passa-se num futuro próximo e distópico, onde os Estados Unidos estão dilacerados por uma guerra civil entre o governo federal e as “Forças Ocidentais (FO) Separatistas”, lideradas pelo Texas e pela Califórnia.

Durante a cobertura de um protesto em Nova Iorque, a experiente fotojornalista Lee Smith (Kirsten Dunst) salva a novata Jessie Cullen (Cailee Spaeny) de um atentado à bomba. Mais tarde, Lee e o seu colega Joel (Wagner Moura) discutem os seus planos para viajar até Washington, D.C., com o objetivo de conseguir uma entrevista com o presidente dos Estados Unidos, cuja queda é vista como iminente.

O veterano jornalista Sammy (Stephen McKinley Henderson) oferece-se para os acompanhar até Charlottesville, ciente de que a sua idade e condição física limitam a sua mobilidade em situações de emergência.

Antes de partirem, Lee descobre que Joel decidiu levar Jessie também e tenta convencê-lo a deixá-la para trás, alegando que ela é demasiado jovem para enfrentar os riscos da viagem, mas acaba por ceder.

Ao longo da jornada, o grupo enfrenta situações extremas, lidando com os efeitos de um colapso social generalizado, e vê-se desafiado a sobreviver no meio do caos de uma nação à beira da implosão.

“Harry Potter e a Ordem da Fénix” (2007), de David Yates

Em “Ordem da Fénix”, Harry enfrenta pesadelos recorrentes, mas o seu maior tormento é a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, a repulsiva e racista Dolores Umbridge (Imelda Staunton). Ela é a encarnação de todos os piores professores que tivemos no ensino secundário ou na faculdade: uma pseudo-educadora, dogmaticamente rígida e arrogante, que, ao assumir o cargo de Alta Inquisidora, começa a impor decretos sem qualquer preocupação com as suas consequências ou com a sua verdadeira finalidade.

Em meio a este caos, uma guerra civil está a tomar forma. O Ministro da Magia, Cornelius Fudge (Robert Hardy), recusa-se a aceitar o regresso do maior bruxo das trevas de todos os tempos, Voldemort (Ralph Fiennes). Em vez de enfrentar a realidade, prefere acreditar que a ameaça é apenas uma rebelião escolar instigada pelo diretor.

A estreia de Yates na franquia desenha-se, assim, como um jogo de movimentos e contramovimentos entre um governo autoritário, cego e controlador, e um corpo discente reprimido, rebelde e cada vez mais radical.

Por fora, assiste-se também à luta de um grupo paramilitar, nomeado Ordem da Fénix, que tenta unir forças contra a insurgência dos Comensais da Morte, aliados do Lorde das Trevas.

“O Paciente – O Caso Tancredo Neves” (2018), de Sergio Resende

O filme de Resende transporta-nos para o mês de Março de 1985, quando o Hospital de Base do Distrito Federal, em Brasília, acolheu um paciente de grande notoriedade: Tancredo Neves (Othon Bastos), o primeiro presidente civil do Brasil após 21 anos de ditadura militar. Com dores intensas, mal conseguia manter-se de pé. Contudo, tudo deveria ocorrer de forma discreta, já que um simples erro poderia resultar num escândalo nacional.

No entanto, o que se seguiu foi uma sequência de falhas e a agonia de um presidente que via cada vez mais distante a sua tomada de posse, culminando na morte que, de forma trágica, impactou profundamente o Brasil, deixando um vazio político e uma onda de incertezas.

“Ligações Perigosas” (2009), de Kevin Macdonald

A trama começa com o assassinato de um jovem, drogado e perdido, encontrado sem vida num beco escuro. No meio da confusão, um homem a passar de bicicleta é atingido, mas sobrevive, caindo em coma devido aos graves ferimentos. No dia seguinte, o jornalista Cal McAffrey (Russell Crowe) vai até ao local do crime, onde conversa com o detective Donald Bell (Harry Lennix) e começa a recolher as primeiras informações sobre o caso.

Algumas horas depois, a notícia de uma nova morte chega. Uma jovem é encontrada sem vida numa estação de metro. O congressista Stephen Collins (Ben Affleck), num choque que o deixa atónito, descobre que a vítima era a sua assistente, Sonia Baker (Maria Thayer). Em uma conferência de imprensa, no meio de uma investigação sobre a empresa privada PointCorp, Collins revela, visivelmente devastado, o falecimento de Sonia. Mas, logo, rumores começam a circular, insinuando uma relação íntima entre ambos.

Cal McAffrey, amigo de longa data de Collins, acredita que o congressista está a ser alvo de ataques injustos, especialmente por parte da poderosa PointCorp. À medida que investiga as mortes do jovem drogado e de Sonia, Cal começa a perceber que os dois casos estão interligados de alguma forma. Suspeitando de algo maior, ele começa a explorar uma possível conspiração envolvendo o governo, o exército e a empresa de segurança privada.

Conforme Cal vai aprofundando a sua investigação, ele encontra provas inquietantes e aproxima-se de uma verdade que pode destruir a vida de muitos. No fim, ele revela, em um artigo bombástico, que Stephen Collins está, de alguma forma, envolvido na morte da sua assistente, desafiando todos os envolvidos e deixando uma cidade inteira em suspense.

“Alone in Berlin” (2016), de Vincent Pérez

O filme é ambientado em 1940, na Berlim da Segunda Guerra Mundial, e acompanha o casal da classe trabalhadora Otto e Anna Quangel (Brendan Gleeson e Emma Thompson), que, após a trágica notícia da morte do seu único filho, decidem resistir ao regime de Adolf Hitler e aos nazistas.

A sua resistência cresce ainda mais ao testemunharem o destino de uma idosa judia que vive no seu prédio. Embora a deportação oficial para os campos de concentração ainda não tenha começado, os judeus já são privados de qualquer protecção legal. Nazistas impiedosos, juntamente com criminosos comuns “não ideológicos”, aproveitam a oportunidade para saquear impunemente o apartamento da velha. Apesar dos esforços de Otto, Anna e outros vizinhos solidários para ajudá-la, a perseguição termina de forma trágica, com a idosa a saltar para a morte de uma janela alta.

Com o desejo de desafiar o regime, o casal começa a escrever e distribuir cartões postais de protesto contra Hitler e os nazistas, colocando-os em locais públicos – um acto que constitui um crime capital.

Inicialmente, Otto deseja fazer tudo sozinho, mas Anna insiste em participar na perigosa actividade. À medida que o filme avança, o casamento do casal, que parecia ter esfriado devido à dor pela perda do filho, é reavivado pelo risco e pela luta comum. A partilha de um objectivo tão importante aproxima-os e reacende o seu amor, fazendo-os apaixonar-se novamente.

“Hotel Ruanda” (2005), de Terry George

Inspirado nos eventos trágicos do genocídio em Ruanda, ocorrido na primavera de 1994, o filme narra os valentes esforços de Paul Rusesabagina (interpretado por Don Cheadle) para proteger a sua família e mais de mil refugiados, oferecendo-lhes refúgio no Hôtel des Mille Collines, que estava cercado.

“Hotel Ruanda” aborda temas como o genocídio, a corrupção política e as profundas consequências da violência, mostrando a luta pela sobrevivência num contexto de horror e destruição.

“Argo” (2012), de Ben Affleck

O filme é inspirado numa história real que ocorreu em 1980, durante a crise dos reféns no Irão. A trama segue o audacioso resgate de seis diplomatas americanos que se refugiaram na embaixada canadiana em Teerão, após a invasão da embaixada dos Estados Unidos por revolucionários iranianos.

O agente da CIA Tony Mendez (Ben Affleck) concebe um plano inusitado para os salvar: ele cria uma fachada de produção cinematográfica, fingindo que está no país para filmar uma produção de ficção científica nas áridas paisagens do Irão. O plano, que parece uma jogada de cinema, envolve enganar tanto as autoridades iranianas como a comunidade internacional.

O enredo é baseado no livro The Master of Disguise”, escrito por Tony Mendez em 1999, que detalha a sua experiência real na operação de resgate, codinome Argo. A tensão cresce à medida que Mendez e a sua equipa da CIA correm contra o tempo para salvar os reféns, enquanto o Irão e o mundo observam.

O filme combina espionagem, acção e drama, trazendo à tona a coragem, a engenhosidade e o risco envolvidos na execução de uma das operações mais inusitadas da história da espionagem internacional.

 

Brasileiro, Tenório é jornalista, assessor de imprensa, correspondente freelancer, professor, poeta e ativista político. Nomeado seis vezes ao prémio Ibest e ao prémio Gandhi de Comunicação, iniciou sua carreira no jornalismo ainda durante a graduação em Geografia na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), escrevendo colunas sobre cinema para sites, jornais, revistas e portais do Nordeste e Sudeste do Brasil.

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